Cansei de lutar contra a dor
Uma frase conhecida: tudo passa. Se é verdade? Sim, de alguma forma – quando menos esperamos – certas lembranças vão embora. E sabe pra que? Para dar espaço a dores piores. Que droga. Logo quando me esqueço de um passado turbulento e obscuro, o presente dá um jeito de trazer problemas graves.
Tenho medo de esquecer. Porque sei que mais cedo ou mais tarde alguém se encarregará de trazer novas demandas de tristeza. E o retrocesso começa: o desespero, o vazio e a necessidade de se sentir sã de novo. As tormentas retornam mais forte, me fazem beirar a insanidade. O antídoto surge alguma hora, mas… E se vier de novo? Pode ser que não haja mais cura e nem conforto para suprir e extinguir o desânimo que me aflige. Pode ser que o meu diagnóstico seja: “a jovem que perdeu a fé e tornou-se gelo puro”.
Lutar não é o suficiente. É preciso ser desapegado nessa selva de pedra, sempre priorizar a si mesmo. E finalmente entendo o motivo do egoísmo de tantas pessoas. Elas partilharam seus sorrisos, mas ninguém quis compartilhar suas dores. O que as fazem pensar que ninguém é legal. Que todos escondem uma máscara estranhamente macabra… Que ninguém é puro.
A dor adoece um humano. Faz com que ele se desconecte da realidade e retira toda a amabilidade que costumava ter. A dor não pede passagem, não diz “com licença” ou toca a campainha da nossa cassa. Ela surge e… Destrói tudo que vê pela frente. E a maior destruição fica dentro de nós. Não adianta abrir um corpo com um bisturi pra ver se ele para de sofrer. O sofrimento é invisível, inalcançável. E a única forma de fazê-lo desaparecer é ignorando-o. Como se fosse fácil, por isso que acabamos cedendo, desabando e ofuscando nossas almas. Pela dificuldade, pela luta dura. Pelo cansaço.