O AMADURECER EM POESIA

(relato de um bate-papo no Facebook)

– Amigo querido, grato pelas "curtições" e comentários ao pé dos textos, certo? Isso me estimula tanto quanto a ti, que te sei agônico pelas leituras...

– O que me dói é que não custa nada dar uma chegadinha e ler o texto.

– Custa, sim, porque os bons leitores têm suas predileções e, dificilmente, algum autor que a gente tenha lido meia dúzia de textos muda a sua verve artística, senão depois de meia dúzia de anos, em Poesia, que é o nosso fraco, a nossa predileção... Quinto Horácio Flaco, que morreu no ano 08 A.C., aos 57 anos, e é conhecido como o príncipe dos poetas da Roma antiga, em sua obra “Ars Poetica”, publicada em 18 A.C., diz ser aconselhável que um poema fique “de molho na gaveta”, pelo menos durante nove anos. Já naquele tempo ele sabia o que afirmava. Os cânones literários e cacoetes de intuição de cada autor são repetitivos, a não ser quando se os lê muito tempo depois, espaçadamente, me entendes? De nada adianta o analista estar a ler textos e mais textos em pretensa linguagem poética, dia após dia, para aquilatar se houve melhoras no texto. Não se deve exigir este proceder do crítico, mesmo que este seja muito paciencioso...

– Entendi, mas não concordo com você. Inventa-se demais para enaltecer algo tão simples: escrever um poema. Ah, meu Deus, quanta bobagem! Qualquer um faz um poema...

– O que o autor acha que avançou em sua arte poética sempre é muito mais do que o analista pode constatar, principalmente quando o criador poético é iniciante... e quer somente escrever e por a sua arte na rua para que os leitores vejam a sua criação. Consequentemente, pouco estuda os poetas consagrados – vidas e obras – e continua a escrever o seu feijãozinho-com- arroz, sem nenhuma preocupação com a arte poética dos que o precederam. Um autor começa a ficar bom quando fala mais dos outros autores do que de si mesmo... E esse proceder é exceção em nosso meio eletrônico, porque o universo virtual aceita tudo de imediato e sem custo... Tudo é feito de golpe, sem maturação. Parece que amadurecer os frutos da Poesia é perda de tempo. Por esta razão é que temos tanta porcaria circulando como se fosse Poesia, na grande rede...

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/3914969