Seja grato

Não sei se já tive a oportunidade de compartilhar isso com você, mas eu perdi meu pai numa noite fria e chuvosa do dia 25 de dezembro de 2007, quando eu tinha apenas onze anos de idade. Da descoberta da doença até o dia do seu falecimento foram três meses exatos. Muitas pessoas pensam que três meses é muito pouco, mas quando se está com câncer, três meses é uma eternidade. Durante esses três meses, todos os dias, eu o via morrer aos poucos, de forma lenta e agonizante, e não havia nada que eu pudesse fazer, quer dizer, tinha sim algo que eu podia fazer: orar. Orar com toda minha fé, e acreditar com todas as minhas forças que ele seria curado, e acredite, era isso que eu fazia todos os dias. Mas um dia não deu, não teve como acreditar mais, porque ele fechou os olhos e nunca mais abriu.

Depois desse dia, tinha todos os motivos para chorar em minhas noites de natal.

Passei um bom tempo me lamentando por todos os anos que viveria sem ele. Culpava-me todos os dias por não ter orado com mais fé, com mais amor, com mais intensidade. Talvez se eu tivesse gastado mais tempo ajoelhado Deus tivesse atendido meu pedido, e eu não teria que vê-lo morrer naquele estado tão doloroso e triste. Ainda criança, acordava no meio da noite e chorava sozinho no escuro, com uma saudade imensa, pensando em como era fazer um milhão de coisas sem ter meu pai por perto, porque, mesmo criança, eu sabia que tinha perdido tudo de mais importante que eu tinha.

Tudo na vida tem que servir de aprendizado, e um dia comecei lembrar-me dos bons momentos que tive ao lado do meu pai. Das noites que dormíamos todos (eu, meus irmãos e ele) na mesma cama. Dos favos de mel que ele trazia das viagens que fazia. De como a casa ficava cheirando diesel quando ele chegava do trabalho. Das vezes que ele me deixou dirigir o trator quando trabalhava em uma fazenda, e tantos outros momentos. Lembrei-me do quanto ele era bom e se importava com minha família, de como ele trabalhava duro, todos os dias, para nunca faltar nada, de como ele driblou as dificuldades para cuidar de nós em momentos de crises, de como ele se orgulhava quando olhava minhas notas no boletim da escola...

E nesse dia eu descobri que o meu problema estava na importância. Na importância que eu dava a todos os dias que eu não poderia viver ao lado dele. Na importância que eu dava a todas as notas boas que eu tiraria, mas não teria ninguém para se orgulhar, nas milhares de coisas que eu iria fazer, mas não teria ele por perto para compartilhar. Nesse dia, eu finalmente entendi, que não poderia mais colocar meus sentimentos na dor, no ressentimento, na culpa, e que eu deveria me importar mais com todos os momentos felizes que tivemos, com os sorrisos compartilhados, em como eu ainda era tão pequeno, mas ele já tinha me ensinado tudo que eu precisava saber para vencer na vida.

Depois desse dia, não chorei mais em minhas noites de natal, pois todos os motivos que eu tinha para chorar ficaram tão pequenos ao lado de todos os motivos que eu tinha para sorri.

Hoje, ao invés de lamentar-me, eu tenho um enorme sentimento de gratidão. Sou grato por ter vivido onze anos como filho de alguém honrado e humilde. Sou grato por todas as dificuldades superadas. Sou grato por sentir meu coração bater e saber que parte dele ainda vive em mim. Sou grato por ter sido gerado com amor e por ter a consciência que eu sou capaz de fazer milhares de coisas.

MINHA MENSAGEM PARA VOCÊ HOJE É: não focalize sua dor. Quanto mais importância você der a ela, mais ela aumentará. Quanto mais você alimenta seu vazio, maior ele fica. Se importe com aquilo que realmente vale a pena. De importância e traga a memória àquilo que te traz esperança, te faz feliz e dá sentido a sua existência. Pense nas coisas boas que já viveu, e você irá perceber que tem mais motivos para ser grato, do que motivos para ser infeliz.

Pense, aprenda, pratique, compartilhe e seja muito feliz!!