AUTÊNTICA
Uma menina simples e pobre tinha uma vizinha da redondeza, uma menina que tinha um pai próspero, e ele possuía uma padaria, que era muito bem frequentada, atraindo clientes não só da vizinhança, também de outros bairros; ele primava pelas variedades de pães, doces, e tortas.
Todos os dias a menina passava em frente a essa padaria antes de ir para a escola, parava na rua e ficava observando a sua vitrine expositora; não só ficava olhando as suas delícias; mas também ficava admirando a filha do seu Manoel, o dono da padaria; ela se chamava Clara e era tão bela, os seus vestidos eram da moda, bem passados; e o seu cabelo era loiro, cacheado e tão bem cuidado; e o seu sorriso era encantador; os seus olhos eram tão verdes e brilhavam, mas que nunca fitavam essa menina; elas eram de mundos completamente diferentes, uma barreira as separavam.
Maria, só tinha roupas costuradas por sua mãe, também só tinha uma par de sapatos, que sua mãe aprimorava em limpar, lustrar; seu cabelo era crespo, tão difícil de domar, tratar; e o seu sorriso, ela reconhecia, era triste de se fitar...
E lá estava ela a admirar a menina Clara, a querer ser parecida com ela, a querer se vestir como ela; por mais que sua mãe lhe explicasse a situação da sua família; ela não entendia porque seu pai não era próspero, e por que não trocava de emprego, e vivia com seu modesto salário de motorista de ônibus; sua mãe não trabalhava, só costurava, mas tinha tão poucas encomendas.
E Maria vivia emburrada, a suspirar, a invejar a beleza de Clara, a prosperidade do seu Manuel, a sua casa, a sua mãe, também bela e loira igual a filha...Maria passou, anos, anos, querendo perder a vergonha e se aproximar de Clara, mas a sua timidez jamais a deixou se aproximar dela; e também o que conversaria com ela? Da pobreza dos seus pais, que mal dava para ela ter um dinheiro para ir na padaria para lanchar, e se deleitar com suas delícias.
Clara era a flor Narciso que Maria admirava, invejava e jamais pode se aproximar, tocar!!!
Um dia, para sua grande tristeza, chegando da sua escola, viu um grande caminhão de mudança parado em frente à casa de Clara, e os móveis estavam sendo carregados por diversos homens e alojados no caminhão...seus olhos marejaram de lágrimas, pois não podia conter a tristeza, Clara, o seu Narciso tão amado, estava indo embora...ela não teria mais alguém para observar, se mirar e almejar ser igual a ela; mas o seu pesadelo se concretizou e de noitinha o caminhão partiu...e Clara nem ao menos olhou pra ela, Maria nem pôde se despedir, e olhar seus olhos verdes mais uma vez.
Por muito tempo, anos, Maria relembrava esse momento, essa perda, essa dor...
Mas a vida não se detém no ontem; e Maria cresceu e continuou a não ser autêntica, a invejar as suas amigas, as suas vizinhas, as desconhecidas que cruzavam o seu caminho; as estudantes da sua faculdade; ela continuava se sentindo feia, pobre, sem nenhum talento, sem nenhum dom!
Ela já não orava mais a Deus, sua sorte nunca tinha sido mudado, e ela queria ser uma outra pessoa, um Narciso, enquanto o Senhor tinha sonhado, almejado, que ela fosse o mais lindo Cravo do Seu jardim!
Assim como Maria, quantas de nós, nos assemelhamos a ela, queremos ser uma outra pessoa, a imitar uma amiga, uma irmã, uma colega de trabalho, uma atriz, uma cantora, etc...e deixamos morrer dentro de nós, o nosso maior dom, a nossa beleza natural, interior; e esquecemos de tudo aquilo que o Senhor nos agraciou para sermos únicas, especiais, uma obra de arte, na mão do Nosso Amado Criador, Maior Admirador, Projetista!
E emburradas, tristes, murmuramos, lamentamos o quanto queríamos ser a outra, a Clara, o belo Narciso; E deixamos morrer de míngua, afeto, adubo...o mais Belo Cravo que podia emergir de nós, se nos dedicassemos a cultivar os dons que o Senhor nos agraciou.
Medite sobre o que eu escrevi, jamais deixe de ser você mesma, amada, o mais autêntico Cravo do Senhor!
Ele agradece e nos abençoa, quando finalmente deixamos as escamas caírem dos nossos olhos, e conseguimos enxergar o tesouro precioso que já existia dentro de nós!!!
Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. 1 Pedro 4:10
Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. 1 Timóteo 4:14
Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. 1 Coríntios 7:7
'Deus só nos pede aquilo que Ele nos deu.
Tudo está em nós pela forma de dom.' Santo Agostinho