PÁSSARO FERIDO QUE VOA

Não posso me calar diante dos sofrimentos do meu povo nordestino; povo que são penalizados com a maior seca desses últimos 30 anos; mas mesmo assim é um povo guerreiro que não se abate diante dos intempéries da natureza, dos revezes da vida.

Povo que não perdeu a sensibilidade, a caridade com seus animais, que choram aos vê-los morrendo de fome e de sede; e não os abandona, ficam ao seu lado, vendo-os gemer, agonizar!

E eles padecem dos mesmos males dos animais, um simples lagarto encontrado é manjar para eles; a água escassa, suja, barrenta, é a fonte que sacia a sua sede.

Povo que jamais deixam de amar, acreditar, doar ao seu próximo, aos seus animais, o que deveras sobejas entre eles.

Me sinto feliz, orgulhosa, de fazer parte desse povo, nordestino; de correr em minhas veias esse sangue precioso, que nunca se curva diante das tribulações, desolações; que jamais abandona a sua terra, preferindo ser enterrado nela, locais que abrigam os seus antepassados e os seus animais amados.

Povo que não abandona as suas origens, pérolas, que já enfeitaram as suas vestiduras rotas e surradas, mas mesmo assim tão valiosas, amadas; nelas estão impressas as marcas do seu brio, do seu trabalho, da sua lida estafante, de tantos anos, em persistir a semear, ceifar.

Eu sou um pássaro ferido que voa, mesmo diante da seca que assola as minhas pairagens.

E mandei vir a seca sobre a terra, e sobre os montes, e sobre o trigo, e sobre o mosto, e sobre o azeite, e sobre o que a terra produz; como também sobre os homens, e sobre o gado, e sobre todo o trabalho das mãos. Ageu 1:11