A VIDA EM BALÕES COLORIDOS
Resolvi hoje completar um ciclo de minha vida. Para isso, enfeitei o céu com balões, e escolhi cinco balões para minha empreitada.
O vermelho, para o meu passado. Enchi, enchi, enchi até que eu tivesse certeza de que tudo o que passou, no passado ficou. Enfeitei meu balão vermelho com uma linda fita branca e um enorme laço de cetim e o soltei no ar com um alegre "adeus".
Fiquei observando cada curva que o balão vermelho fazia até que desaparecesse por completo. Foi tempo suficiente para eu perceber como os passados são disformes e parecem não ter rumo, muitas vezes sem sentido, sem razão para serem lembrados. O balão cambaleou, cambaleou no céu, sem rumo, sem direção. Nitidamente não sabia para onde ir. E desta mesma forma, em um minuto de distração, o perdi no céu, sem saber para onde ele foi, apenas, com a certeza de que ele se foi.
O próximo balão, o amarelo. Este para o meu presente, uma cor que me lembra o brilho do sol. Foi muito rápido enchê-lo, afinal, ainda estou no presente. O enfeitei com vários coraçõezinhos dourados e com todo fervor o soltei alegremente. Ele subiu timido, devagar, mas muito sereno. Nem percebi quando o perdi de vista.
Passei, então, para o meu terceiro balão. O verde. O verde mais luminoso que encontrei. Coloquei nele toda a esperança da qual dispunha. Todos os meus sonhos e minhas alegrias. O enchi de doces, balas e caramelos. E por mais cheio que ele estivesse, parecia leve como uma pluma. O apertei em meus braços por um leve segundo antes de soltá-lo. E quando o soltei pude assitir, diante de meus olhos, uma explosão extremamente brilhante, luzes da minha própria vida.
Pingos de chuva começaram a dançar no céu, cantando com os raios de sol que teimavam em não perder um só minuto daquele espetáculo. Dancei como há tempos não fazia até à exaustão, de tamanha paz e alegria. Ah! e não me pergunte sobre onde fora o meu balão verde, porque ele se espalhou docemente por todo o céu, assim como nossos sonhos se espalham por toda nossa vida
E assim, passei, então, ao meu quarto balão. Escolhi a cor rosa para me lembrar ternura e carinho. Nele coloquei todas as pessoas da minha vida. Minhas paixões; meus amores; meus amigos; meus filhos; pessoas especiais das quais me lembrava com carinho naquele momento. Muitas pessoas com as quais convivi apenas o tempo de um sorriso de um olhar, de duas ou três trocas de palavras amáveis, mas, que de alguma forma, fizeram uma diferença no meus dias.
Foi difícil encher este balão. Demorei uma memória linda para cada pessoa.
Para cada pessoa senti um cheiro, ouvi uma música, escolhi uma cor, um tom e uma roupa. Para cada uma, recitei um poema e dividi uma emoção. Para cada pessoa, escolhi uma qualidade e um defeito. Fiz questão de fazer com que cada pessoa se transformasse uma pessoa de verdade, única e especial aos meus olhos.
Quando acabei, percebi que naquele único balão já caberia os outros três balões que havia enchido e soltado no céu. Percebi que todo o sentido de nosso viver, nosso passado, nossos sonhos e nossas esperanças estavam diretamente ligadas aos nosso conviver ao lado das pessoas que nos cercam, que de uma forma ou de outra, fazem parte de nossas vidas.
Percebi que meu balão rosa me causara uma certa nostalgia. Daquelas boas, que enche nossos olhos com as cores do arco iris, da vida.
Quando ergui meu balão rosa, prestes a soltá-lo percebi o quanto ele brilhava. Não era mais um balão cor de rosa qualquer, era um baú de tesouros. Minhas mãos se abriram, mas aquele balão rosa não voou. Ao contrário, ele se multiplicou em vários outros balões rosas. E cada um desses balões, sozinhos, ao seu tempo, seguiram seus rumos.
Percebi, então, que pessoas não se perdem e não se soltam de nossas vidas. Não se diz adeus a ninguém. Elas apenas caminham, e se vão, cada uma em sua própria estrada e ao seu tempo e isso não significa que elas deixaram de ter valor ou que você tenha que deixar de ama-las.
E assim, chegava a hora de eu encher e soltar meu quinto e último balão. A cor, azul, não tinha a menor dúvida quanto a isso. Azul da cor e da imensidão do mar e do céu.
E foi neste meu balão azul que depositei uma única coisa: FÉ. A minha FÉ, porque este balão azul é exatamente o balão que representa o meu FUTURO.
E eu apenas o soltei. E ele se perdeu na imensidão do destino.
Claudia Gennari
13 de agosto de 2012