De que lado está a razão?
A vida se torna um tanto complicada quando se luta desenfreadamente por ter razão em todos os assuntos, em todas circunstâncias.
A falta de flexibilidade azeda muitos relacionamentos. Casamentos são desfeitos porque cônjuges não querem a paz, mas sim a razão em qualquer discussão.
Pais deixam de aprender com os filhos porque julgam que os pequenos nada têm a ensinar, guiando-se pela obsoleta visão de que os mais velhos sempre tem razão.
Amizades se abalam porque amigos em momento de invigilância defendem com ímpeto - inclusive menosprezando a visão do amigo - um ponto de vista sobre assunto banal, sem qualquer relevância.
Lembro-me que na época de colegial empreendi duelo verbal com um grande amigo, discutimos acirradamente para ver quem tinha razão em determinado assunto. Sai perdedor, ganhei o duelo verbal, mas perdi o amigo.
Pior aconteceu com a família de outro colega meu. Seu pai e sua mãe discutiram asperamente, troca de farpas, ameaças, ironias. O pai ficou com a razão, contudo, perdeu a esposa, que faleceu após a forte emoção da discussão.
Vejamos o caso da invasão norte americana no Iraque. Foram gastos milhões de dólares em uma guerra motivada pelo egocentrismo, sangue jorrado aos montes vitimando militares e civis, tudo para mostrar ao mundo que o Presidente norte americano tinha razão.
Será que a guerra era mesmo a única forma de lidar com aquele assunto e mostrar de que lado a verdade estava?
A questão de brigar muito pela razão é a massagem que a vitória faz no ego da pessoa, quando se tem a consagração no embate verbal, existe a alegria de ter feito vingar seu ponto de vista, mostrando aos outros que se está certo e o suposto adversário errado.
Não importa se feri, machuquei, magoei, o importante é que a razão, malfadada razão, esteja do meu lado, então por isso sinto-me no direito de desrespeitar e freqüentemente ferir o bom senso para ver prevalecer minha opinião.
O engraçado é que esses embates não nos fazem melhores e não causam-nos alegrias, ao contrário, essas discussões infrutíferas que temos apenas para ver de que lado a razão está, apenas nos deixam aborrecidos, tristes e não raro arrependidos.
Deixar a razão de lado para privilegiar o bom relacionamento requer grande esforço de nossa parte, porque precisamos exercitar a tolerância diante de um ponto de vista diverso. E poucos estão dispostos a renunciar o seu ponto de vista para que se prevaleça o bom ambiente, todavia, seria de grande utilidade que preferíssemos o bom ambiente a ter razão a qualquer custo, porque é com freqüência que vemos dois argumentos sobre um mesmo assunto respaldados pelo bom senso.
O fato de meu ponto de vista estar correto de forma alguma invalida o ponto de vista do outro, sendo que, muitas vezes, eles podem parecer discrepantes, mas até se completam. A grande questão é que a luta por ter razão nos deixa enceguecidos por uma idéia, e fecha nossa tela mental à outras questões que também podem ser válidas.
Por isso caro leitor, entre ter razão e ser feliz, é melhor escolhermos o caminho da felicidade, que traz a paz e a consciência tranqüila, a harmonia e o bom ambiente, afinal, de quê adiante ter a razão se ela nos traz aborrecimentos, uma posição inflexível, inimizades e impossibilita de ver a outra face da moeda?
Pensemos nisso.