Alma drogada
Que olhava o céu estrelado em noite tempestuosa...
Que contemplava a lua cheia em madrugada minguante...
Que pernoitava, extasiado, em barrancos e bancos de praça, solitário?
Que uivava como lobo, embalando a sua criança ilusória...
Que cantava a sua canção em reverso de ré e dó...
Que falava de coisas insanas, porém misteriosas...
Que destruia os seus sonhos e construia o seu castelo de areia...
Que procurava o alto com o rosto prostrado na cinza...
Que brindava a vida velando a morte...
Que apostava na sorte e ganhava o tempo perdido...
Que chorava nas esquinas e se escondia em suas muralhas...
Que tinha tanto pra dizer e ninguém pra lhe ouvir...
Que acreditava na liberdade mas se cruscificava...
Que era a favor da paz mas se aprisionava.
Que a duras penas pelas ruas perambulava...
Com suas frágeis asas nas alturas voava...
Em seus braços cansados todos os fardos carregava...
Nas costas curvadas as amarras entrelaçava.
Não suportou o penhor e se desvalorizou...
Na sombra da alienação a vida se evaporou...
No tribunal do seu altar o sacrifício a desaprovou.
Na corrente do seu sangue, o insuportável...
Nas veias dilatadas, o não tolerável...
No olhar vago e perdido, o fim do túnel...
Que poderia ser o começo do embriagar-se na luz...
Abrindo as portas para o repouso acalentador...
Embalando o seu novo corpo em sono reparador.
Se na luz não quizer mergulhar...
Nem o cálice da vida em suas mãos pegar...
Então, já sem o seu corpo matéria na névoa das noites permanecerá...
Nos bosques escuros, morará...
Nos lugares obscuros, a sua energia mórbida estará...
Nas "noitadas" dos inocentes se infiltrará...
Ilusoriamente, será o seu lugar...
Permanecerá, findará?
Até que aceite e se deleite no resplandecer da aurora do além...
Onde o fim é o começo do novo...
Do ser renovado na luz...
Dirá: Que droga de vida vivi em tempo passado...
Que benção é esse céu iluminado!
SempreRose&Angel - 23.08.2012
Rose Besen Scheffer