POESIA E POSTERIDADE

Amada poetamiga! Tu estás recém no primeiro livro solo, e foste professora por mais de trinta anos, hoje aposentada. Como não irias te motivar com uma assertiva tipo "A profa mandou bem" vinda de um aluno ou ex-aluno da mestra? Normalmente, o autor novato (e todos os outros) quer mesmo é ser lido e elogiado, isso alimenta o ego de pronto... No entanto, depois de vários livros publicados, a gente aprende que há leitores comuns e leitores especiais, que são os que consomem o produto, e emitem opinião consistente. Esses são, portanto, são formadores de opinião. Todavia, também é muito agradável sentir que um jovem teve a cabeça feita por um poema ou por um conjunto de textos numa certa obra. Depois de nove livros de poemas – oito de Poesia e um enfeixado de cartas, mensagens e alguma Prosa Poética – o que me deixa feliz é encontrar um leitor que saiba expor as suas razões mais amplamente do que uma simples expressão corriqueira do internetês, como quem come uma laranja e elogia o doce do sumo ou o gosto de uma bala de goma... Falo como escriba de Poesia que exige a abertura de códigos verbais para ver entendida a proposta contida nos versos. Portanto, é um pouquinho mais do que “o poeta mandou bem”... E mais: sei que o poeta que se entende como arauto não escreve para o seu tempo de viver, e sim para a posteridade. E essa postergação começa quando os poemas chegam ao livro didático. É esse que vai “mandar bem para as gerações futuras”... Essa é a principal diferença de ótica entre o amador (diletante) e o que está em processo de profissionalização, mesmo que não viva de sua arte. Entretanto, é a partir do estudante (que lê em português e no internetês) que se poderá chegar à difícil popularidade junto ao público juvenil. Todavia, é o calejado professor do ensino médio e dos cursos universitários que levará a palavra do poeta à posteridade além da palavra. Peço escusas por minimamente divergir de teu honrado e sábio ponto de vista a partir da tua digna e afetiva visão magisterial. É necessário semear a Palavra como semente capaz de tudo. Até de não germinar...

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2012.

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