A FESTA DO VIVER

Para o texto: Renascimento (T3719073)

De: Hector Raposo.

http://www.recantodasletras.com.br/poesiascomemorativas/3719073

Querido poeta! Andei lendo muitos dos teus textos publicados no Recanto das Letras, e fiquei um pouco preocupado com a imensa tristeza relatada nos poemas, sendo que este "RENASCIMENTO" é um dos poucos em que percebo, desde o título, a tua resignação para com o fio de linha entre o nascer e o morrer... Acho que o homem nasceu para ser o vencedor dos embates, porque tem essa indômita "condenação ao pensar" que o permite fazer criando (poiésis), transfigurando a matéria da vida e, nessa recriação, superar-se frente aos desatinos e pedras depositadas nos caminhos. Normalmente a Poesia nasce nos insatisfeitos, nos inconformados frente ao decurso da vida, para si e para os outros. E, por ela, o autor recria o ambiente circunstante e seus agentes, dando nova roupagem aos fatos, como se tivesse o condão de mudá-los frente à realidade. Porque, neste momento, o poeta é um mago – o senhor do Mistério... Na Poesia resta contida similar imagem à que aparece em tua foto neste Recanto. Ela pode ser simbolizada pelas rosas em florão, para que o coração se torne belo, aprazível para si e transmissível ao receptor que lê o teu poema. Cuidado! Poesia não é psicoterapia individual na primeira pessoa – até porque não é o EGO que escreve, e, sim, o teu ALTER EGO. Tratar a Poesia no universo do EU como forma de vencer a adversidade – como técnica psicoterápica – parece-me egocentrismo, morbidez e insegurança, porque as atribulações íntimas frente à vida são sofrimentos tão humanos quanto a dor de dente, que parece doer dentro dos nervos... Poesia mais do que simplesmente isso e com esse efeito: é a pulsação do Ser, das inquietudes que vão além dos desejos de falar sobre si – do "homem e suas circunstâncias" – forma de se dizer presente na festa do viver em confraternidade. Certo que Poesia é linguagem cifrada, codificada, no entanto, tem de conter UNIVERSALIDADE – algo passível de entendimento por todos os humanos. E tu, como poeta, és componente dela, da dimensão de te saber no mundo como um delator do que te apraz ou convém, fruto do sentir que nem sempre passa pelo mecanismo da intelecção, fluindo intuitivamente no poema. Digo isso pra me delatar frente a ti, meu irmão em Arte. Para dizer que o teu criar é precioso ao universo do que te amam, pela simples razão de nos sabermos antevisores dos fatos e das coisas não sabidas, para além de nosso tempo de viver... Peço escusas pela franqueza. Trago, apenas, o relato que o tempo me permitiu guardar. Recomendo que dês uma olhadela na obra do simbolista francês Arthur Rimbaud, um dos chamados “poetas malditos”. Acho que gostarás da fluidez com que ele repassa à posteridade o que pensava em seus tenros anos...

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

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