Quiçá mas não irresponsavelmente, por décadas atrás tê-lo incentivado a insistir no caminho das pedras, digo, das letras, em um contexto histórico no qual o mesmo não passava de um adolescente piegas, cuja criatividade de boa-fé, inocente, quando nem sequer se dava conta, da maioria das vezes quando redundava em plágios nos seus primeiros trabalhos denominados “Meus Mandamentos I” e “Meus Mandamentos II”, corajosamente publicados. Eis que agora o autor amigo surpreende e nos premia a todos, não apenas a mim, com o seu “O tesouro nosso de cada dia”, agora nosso, a cada instante cada vez menos dele. Afinal quem escreve, escreve para os outros e não para si mesmo. Contudo, antes de lançar-me ao desafio de prefaciá-lo e incentivar o leitor ou leitora a viajar pelas páginas deste livro, não poderia deixar de agradecer a Deus e reconhecer a dádiva de fazê-lo. “Ah, se todos os meninos e meninas deste país fossem incentivados a prosseguir!” Sem dúvidas colheríamos outros bons frutos, outros tesouros nossos em nosso dia a dia. Este é um livro não apenas para quem gosta de ler, mas sobretudo para quem quer aprender a gostar de ler. Outrossim, é um livro para quem tem tempo e para quem falta tempo. Afinal sabe-se que o tempo é o grande luxo de nossas vidas. Para quem tem tempo por estar de férias ou de folga porque fará uma dupla viagem pelas suas páginas. Ainda que não viaje de fato, viajará sem mover-se do lugar. E também para quem não tem tempo nenhum mesmo, porque é um livro para ser lido a qualquer instante basta focar em um tesouro ali outro acolá, usar um marcador de páginas e paulatinamente conquistar outros e mais outros tesouros. Soaria falso afirmar que avaliei detalhadamente esta obra. Até porque perderia a graça, equivaleria a não permitir que você leitor também o faça. Então o fiz em alguns conteúdos, os quais contribuirão para que faça. Em “Quem divide soma” aprende-se, sobretudo que ‘o conhecimento é algo que adquirimos, (...) se não o partilharmos seremos guardiãs da mesquinhez humana e todo o conhecimento em nós guardado se converterá numa vil estupidez!’ Vale à pena conferir “As lições que meu pai me deu:” ‘Filho, não basta aprender as coisas boas; você tem que praticá-las! Porque se você não o fizer as coisas boas farão de você uma pessoa má. ’ Recorda-me o pensamento de alguém, cuja autoria, a memória agora falha: quem é bom e não faz nada, já é mau. Em “Meu versejar é minha vida” fica evidente que o autor faz poesia como quem faz amor e mais que isso, como alguém que busca consertar o mundo, mas humildemente deseja ser consertado. Talvez daí a persistência, a humildade, a esperança que fez João sair de Salto da Divisa-MG (Baixo Vale do Jequitinhonha), ir para São Paulo, sofrer, vencer, superar, cair, levantar, persistir e nos presentear com o “Tesouro nosso de cada dia.” Encarando bravamente de cabeça erguida, peito aberto e barriga para dentro, as Bienais do Livro: de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Quanta lição de vida em “Eternos namorados” quando ‘o velho sábio apontou o dedo na direção de um casal de velhinhos que seguiam abraçados, com o auxílio de suas bengalas brancas, vivendo um amor já eternizado. ’ Sem pestanejar leitor, atenda ao convite sugerido em “Contemplação”: ‘Se possível sente no banco da praça e observe as gangorras, os balanços que vão e voltam, olhe as crianças que brincam, olhe o seu filho correndo atrás da pipa com outros filhos. ’ ‘Não perca tempo!’ Chegará o tempo que não haverá mais tempo. Leve consigo “O tesouro nosso de cada dia”. Valerá à pena conferir entre outros, bons poemas afetivos, tais como “Fôlego de amor”: ‘Quando no mundo eu morro/nos campos de morte de todos os dias, num golpe algoz de dor desmedida, te busco em sonhos, anjo meu, pois você tem o dom de me devolver a vida!’ Em “Teu beijo”, por exemplo, prevalece a importância do beijo em nossas vidas. Mais que isso, cada palavra soa como melodia rítmica em uma boa música. Corre o sério risco de virar música, tão logo caia no conhecimento de especialistas afins. Vide “Eu na sua vida” e “Nos teus olhos a minha vida.” E quem ler “O menino servente” e não se comover é porque não tem coração de gente de bem, perdera a sensibilidade própria dos humanos. O autor fora muito feliz ao compartilhar de suas observações conosco, na forma deste belo e triste poema, mas necessário. É daqueles para ser insistentemente trabalhados em todas as salas de aula deste país. É daqueles para estar na mídia, virar peça teatral e mais que isso: contribuir filosoficamente para mudar os rumos da educação brasileira. Neste livro o leitor terá a oportunidade de saciar de poesia de amor, de amadurecer ainda mais a sua consciência social em um tempo em que o mal parece normal. Perceber-se-á que ainda existe poesia e a esperança teima em reinar. Não há como não recordar em “O homem e a lixeira”, do ilustre poeta Manoel Bandeira, em seu famoso poema “O bicho”. Todavia o nosso autor o faz de forma mais aprofundada, toca na temática social distintamente, mas parecida com a do consagrado Bandeira, denunciando assim a hipocrisia da sociedade capitalista contemporânea. Interessante também como o autor denuncia o estado de não consciência ecológica do homem civilizado, em “O índio e o ‘homem branco’”. “Repensando a vida”: Valeu a volta por cima do autor. Afinal perderá o poeta caso se recuse a poetar e perderemos nós, que não desfrutaremos de sua formidável poesia que amadureceu. Ah se todos que pararam no meio do caminho ou que desistiram nos primeiros passos retomassem a caminhada! Perderia sentido a “Sociedade dos Poetas Mortos” e pessoas que embora vivas estejam mortas, ressuscitariam. Já em “RR – Repensando a Relação”, não importa se a relação está boa ou ruim, mas principalmente se estiver ruim, caso você leitor, tenha uma parceria afetiva, sem dúvidas é bom refletir e ir repensando a relação, leia! Em “Perdoa-me”, o perdão é reverenciado como mais um importante tesouro a ser compartilhado, confira! Assim como em “Pu quê só eu num pode”, a ética infantil é posta em evidência em “Amor incondicional”, o autor mais uma vez nos chama à reflexão profunda quanto ao tratamento que damos às nossas crianças. “Meu super-herói partiu” e “Minha eterna mãe” são belíssimas construções, nas quais são prestadas homenagens ao pai e a mãe, servem de exemplos para todos nós filhos e filhas. Os vários poemas líricos, românticos, emotivos e racionais aqui expostos valem o tempo empregado à leitura dos mesmos. Encantei-me sobretudo com “A pessoa ideal” que muito me lembrou algum poema de Vinícius de Morais. E o que dizer leitor, de “O homem e o girassol”, convite à uma intensa reflexão nos momentos em que nos entregamos ao desânimo? Confira! Enfim, penso que “O tesouro nosso de cada dia” contribuirá, sem dúvidas, com a nossa busca pessoal do nosso próprio tesouro, basta que nos permitamos alguns momentos de paz, de silêncio interior ao nos debruçarmos sobre as suas páginas, preferencialmente a sós com os nossos pensamentos. Afinal em muitos dos seus pensamentos o autor nos lembra Hermógenes em seu livro “Mergulho na Paz”, de modo que por isso e muito mais, recomenda-se a leitura deste.
Edmilson Alves dos Santos* * Ex-militante do Movimento de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, é funcionário público do Estado de Minas Gerais, Assistente Técnico da Educação Básica da E. E. Cel. Elpídio Alves Ferreira. Professor, Secretário Municipal de Educação de Salto da Divisa-MG, está cursando Bacharelado em Administração Pública, pela UNIMONTES, sistema UAB, PNAP (Programa Nacional de Formação em Administração Pública).
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