Fragmento "A Vitoriosa Derrota"

Tenho a impressão de que já nasci sonhando, um “Q” de pícaro dentro de mim, tomo cuidado com o sol, mas acho que minhas asas estão derretendo, é tão encantador olhar tudo a volta que me queimo tão fácil, quanto às asas de cera derretem com o calor.

A droga causa essa sensação, é um lamentar constante, mas o vegetar enquanto vivo é morrer sem saber para onde ir...

Tudo é tão vago e nostálgico, não é a mesma coisa que ficar bêbada em uma festa, ou dizer “eu te amo” sem amar ninguém inclusive a si próprio. É como estar em um inferno em que se anda descalço sobre larvas e labaredas da mesma consistência, é ver-se nu e pegando fogo ou congelando no Alasca.

É não encontrar o próprio rosto, eu olho e não me vejo mais, só uma carcaça ambulante que ainda, insiste em andar pelas ruas, totalmente deprimida e sempre, sempre acaba em um beco sem saída, em que a única saída é voltar para traz, mas fazer esse caminho inverso é tão difícil quanto olhar para o mundo e gritar “Eu existo!”.

Descobri meu câncer através do sangue que escorre pelo nariz socado de pó e totalmente dormente, assim como minha alma que se escondeu após um tempo suportando a abstinência.

A abstinência é um vazio maior do que o não se reconhecer mais, é um vácuo profundo que vai se apossando até possuir cada célula do corpo e enfim limpar a mente de tudo, não deixando mais nada só uma cegueira branca como a do livro “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago.

E tudo ainda tem uma consistência impar para a vida, é só querer a mesma e se rodear dos velhos sonhos, é um momento inconstante, mas melhor do que qualquer delírio que minha menina dos olhos brancos, poderia oferecer.

Ao menos ainda sei que vivo.

Vivo tanto que me perco entre o caminho de volta para casa até a minha mente ainda consciente, luto todos os dias buscando um fim, sabendo que só me resta essa Vitoriosa Derrota que aflige os amigos e dilacera a minha família, tanto pela duvida do que posso ainda fazer, como pela dor de que eu ainda venha cair novamente diante a minha antiga cegueira branca e perderem-me pra si mesma nos abismos das lendas umbrianas.

Juliana k
Enviado por Juliana k em 11/05/2012
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