A reclamação contamina.
Pai e filha eram sócios em belo e organizado salão de beleza. A filha, jeitosa e competente, com esmero tratava de realçar a beleza das mulheres que lá compareciam.
O pai, por sua vez, administrava a parte financeira do salão.
Naquele sábado, como era de costume, o salão estava repleto de mulheres que aguardavam ansiosas o momento da transformação.
Em dado instante, o pai, querendo ser simpático e entreter as mulheres, começa a dizer:
- A situação em nosso país está muito difícil, a vida anda complicada. Ganhamos pouco e as coisas estão caras, o Brasil não anda, a economia está estagnada.
- Temos de economizar, gente! Temos de economizar e não gastar em supérfluos. Sua voz era dramática, quase chorosa, ele discursava com o coração na ponta da língua, o que dava mais ênfase às suas palavras.
As mulheres, olhos arregalados, estavam como quem despertasse de pesadelo.
Ele, vendo que todas sorviam cada uma de suas frases, continuou:
- Não sei o que será de nós, sinceramente, estou desanimado!
As mulheres, atordoadas com aquela saraivada de frases alertantes, olharam-se e em perfeita sincronia levantaram-se, deram razão ao dono do estabelecimento, agradeceram por tê-las alertado quanto às dificuldades econômicas do país, e foram embora, afinal, elas não poderiam gastar em supérfluos.
No fim do dia, com o movimento pequeno, caixa baixo e o salão vazio, continuava ele a dizer:
- Veja filha, veja a situação de nosso país, olha o movimento como foi hoje, infelizmente não podemos esperar mais nada desse governo, e blá, blá blá, blá blá...
Pois sim, caro leitor, aqui temos na prática o que sabemos na teoria: as palavras contagiam. A reclamação contamina, é um vírus que não resolve nossa situação, ao contrário, apenas agrava, porquanto maximiza as complicações.
Lamentavelmente, há pessoas que reclamam de tudo: da vida, de outras pessoas ,da família, do vizinho, da condição social, do emprego, do patrão, sobrando até para o cachorro.
Reclamar pode se tornar um hábito, e deixar que esse hábito faça parte de nosso cotidiano nos deixa azedos, amargurados, chatos...
Pior: ocupa um espaço em nossa vida que poderíamos utilizar pensando em soluções, ou seja, ao reclamar, além de perdermos tempo, não equacionamos a situação difícil.
Há também outra questão, ninguém merece ficar ouvindo nossas lamúrias 24 horas por dia, isso é faltar com a caridade, afinal, as pessoas têm coisas mais importantes a realizar do que ficar perdendo tempo com adultos mimados, que querem porque querem que a vida se subordine a seus caprichos.
Que fique claro: não falo aqui de desabafo com amigos ao partilhar problemas e procurar soluções, ao chorar quando se tem vontade, ao manifestar seu ponto de vista contrário, falo aqui da reclamação pura e simples, como na história acima.
No mais, reclamação faz mal ao bolso, nos empobrece.
Reclamar vai afugentar seus clientes e, certamente, você ficará mais pobre.
Reclamar te trará problemas no estômago, você terá de gastar com médico, remédios, seu rendimento profissional cairá e seu emprego então corre risco.
Reclamar vai afastar de você a tão sonhada promoção, afinal, ninguém dará promoção ao funcionário que reclama da empresa, do patrão, do salário, dos colegas de trabalho...
Enfim, leitor amigo, reclamar nada resolve, nada traz de útil, em vez de reclamar podemos: trabalhar. Sim, trabalhar nos livra do ócio, nos ocupa o tempo, nos faz melhorar.
Por isso, nada de reclamação infrutífera, nada de chatice sistemática, há muito o que fazer na vida para perdermos precioso espaço existencial com lamúrias sem resultado.
Pensemos nisso.