PRIVACIDADE?

Amada Cy! Não gosto muito do Facebook. Falta nele espaço para colocar os textos em sua amplitude, de cabo a rabo, na página. Não me parece convidativo ao LÚDICO que a Poesia propõe... O receptor lê aos pedaços, e, ao abrí-lo todo, perde o fio da meada; vai-se parte do conteúdo, ou se tem de reiniciar a leitura. Gosto do Orkut – e especialmente o modelo antigo – em que me esparramo na forma textual. Deves notar que ainda uso o Orkut original. E não envio correspondência massiva, automática, vale dizer, para todos, indiscriminadamente. Tudo vai diretamente ao interlocutor. Como tu, que és especial ao meu coração antigo, mesmo que pouco nos conheçamos. Por certo que temos afinidades... Prefiro que o poema ou a prosa siga ao receptor escolhido. No Facebook tudo é muito aberto, cortejando a popularidade fácil de autor e texto, no caso dos pretensos escribas como eu. Abre-se a vida privada, tal qual no monstro televisivo do Big Brother, da TV Globo. Expõe-se a intimidade sem nenhum pejo, o que empolga o passivo ouvinte televisivo, tornando-o contribuinte patrimonial sem nenhuma reclamação, via interatividade celular paga... E o dinheiro enriquece o bolso dos promotores do “bigbosta”... O sexo explícito e os diálogos confidenciais sempre foram fontes de concuspicência aos expectantes. Os jogos do amar e o voyeurismo autorizado estão na moda. Quase todas as pessoas querem “espiar” até na TV aberta, incluindo as crianças... Cuido de minha escassa privacidade, cada vez menor devido à popularização de minha obra. No mais, no Orkut, o que se deseja protegido, pode seguir em ‘depoimento’, direto ao interlocutor, sem a participação dos fresteiros...

– Do livro AVE FUGIDIA – palavra & diversidade, 2011/12.

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