Alguém me explica?
Será que dá pra existir alguma coisa de que possa ser vivido sem ter que esquecer depois? Qual o momento que é verdade dentro de tanta mediocridade existencial. O egoismo parte e reparte todos, sem ao menos fazer doer. De repente, tudo vai parando aos poucos, nem mesmo a dor que doia, não doi mais. Palavras parecem que são mastigadas e engolidas, nem sequer são digeridas. Como se tivesse fone nos ouvidos, passam percebidos e despercebidos entre a multidão que anda, corre sem nem sequer olhar pra trás. De quem é a culpa daqueles passos apressados? De uma caminhada pra perder os pensamentos, e que ninguem os encontram. Porque não dá pra olhar pra trás, retirar as mazelas e seguir em frente? Nem se consegue mais ouvir aquele som que sai de dentro daquilo que chamamos de coração. Ora lento, ora acelerado despertando na alma aquela dor. Caramba! Será que ficar mais um pouco e fazer diferente é tão difícil assim? Ninguém entende nenhuma palavra, nem mesmo o silêncio já desperta curiosidade. Será que há em algum lugar um coração que possa estar aberto? Um sorriso que seja? Alguém que não só esteja praticando um relaxamento facial, mas que esteja mesmo sorrindo. Porque nem o sorriso hoje pode demonstrar felicidade. Estão acostumado a ter este sorriso falso de cor de abóbora, que se contarem uma notícia triste, é capaz de darem gargalhadas. Ninguém ouve, só fixa os olhos tentando transparecer uma atenção treinada. Quanto desperdício é não amar, quantas horas não jogamos fora sorrindo com quem nos quer. E quando chega a hora de sair, esquece todo rumor do último instante. E deixa encostado alí aquele brinquedo. E este respeito que nos tira, que desmancha nosso ser em mil pedaços, e quem tem que fazer a limpeza, juntar os cacos? O que importa se é ouro, se o brilho está fosco, se o perfume já não invade. Que horas está marcado pra tudo recomeçar? Já foi colado as partes trincadas, as lágrimas já foram enxutas, já renovou o estoque de ânimo, agora vai... tem alguém esperando pra desfazer tudo que você arrumou. O tempo corta, corta laços, corta entrelaços e nós. Corta os nós que com um jeito torto foi se apertando, corta o nós que amanhã depois já não seremos mais. Quem foi que disse que o tarde não existe? Tarde demais para falar o silêncio ou emudecer as palavras.