O DESABROCHAR DA FLOR

E onde encontrar as metáforas – a fala poética – a utilização do sentido conotativo, a figuração da linguagem? Sim, o texto lançado na página tem o formato de um SONETO, tudo formal, correto, porém, onde está a Poesia que ele deveria propor? Eu leio o texto e, ao terminar, entendi tudo... Acabou! Nada me passa pela mente como sugestão, como algo que tenha ficado do ato de leitura... Sabes aquela coisa da ideia ficar saltitando na cuca? De o conteúdo ficar percutindo para além da leitura... No dito soneto, ocorre exatamente o oposto do que se esperaria, porque está ausente a comunicação poética. Não se estabelece o elo de ligação com o receptor... A Poesia deita veus sobre a palavra, que são, exatamente, os seus mistérios e fetiches, nascidos num simples desabrochar – pétalas da flor da linguagem. E Poesia contém o mistério nas entrelinhas. Não tem a destinação de ser entendida no primeiro momento... E por que não incluir figuras de linguagem antes de publicar a obra? Por que essa agonia de produzir algo sem qualificação poética? Ainda mais sob a forma de SONETO, que é formato clássico, em versos, exclusivo no gênero. Se ocorrer a preferência pela PROSA – escrita linha a linha, margem a margem – como qualquer outro bilhete, não haverá essa exigência formal. Escusa-me, mais uma vez, pela insistência em ajudar a seres uma boa jardineira. Gosto de ver a flor desabrochando...

– Do livro PALAVRA & DIVERSIDADE, 2011.

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