Prece

Acende, Ananda, meus olhos para que eu veja para além dos sonhos de Mara. Acalma meu coração envolto na tênue teia das ilusões. Abre o caminho insondável para o que sou e deita a minha cabeça em teu colo quando a cegueira se fizer incandescente, atiçada pelas brasas da minha ignorância. Que a minha boca professe as palavras do teu cântico. Que a minha mão siga a tua e os meus passos caminhem após os teus pelos caminhos verdejantes aonde a minha alma vem te visitar por entre os ipês de agosto. Espelha o rio que traz as águas desta torrente de Verdade da qual tem sede a minha Alma. Tocai a cítara durante meu sono para que meu coração se reconheça no dedilhar singelo do poema dos teus dedos. Ananda, Ananda, dá-me a saber quem sou nesta Alma infrangível refém desta matéria que o tempo corrói em memórias tão curtas, em enganos infindos, neste longíqüo adormecer. Ananda, concede-me a estrela, que a minha Alma aprisionada é, como ela, Fulgor de Luz, Grito Fremente, Pulsação e Semente. Se fora da mente nada existe dá-me vivenciar a sabedoria e o grande Amor que em mim vivem como a flor que desabrocha e suas cinco pétalas começam a brotar. Dá-me a luz do sol para afastar a escuridão dos meus olhos e a luz que vem de ti para afastar a escuridão da minha Alma cativa desta matéria que, como o galho ressequido pela intempérie, cai ao chão e putrefa para nutrir o solo e gerar outras vidas tão sequiosas quanto a minha da tua voz e do teu olhar. Que a minha alma eterna saiba das noites o tempo, saiba dos dias o frescor e a aragem que vem das matas e da completude do mar. Que a minha Alma saiba que os sentimentos bons ou ruins nascem em mim e são eu nestes momentos. Ananda, dá-me clareza para identificar o supérfluo do essencial. Que eu reconheça em mim a tua dócil Sabedoria e este Saber suplante em mim o fogo intenso das Vaidades. Que o meu coração seja cheio de ti. Faz do silêncio a minha voz mais alta. Que eu possa perdoar meu semelhante no momento em que sou raiva e arrogância e a mágoa tingiu meu coração de tristeza e rancor. Namastê!