...Como ser humano”

dener versiani kroger*

Não me lembro bem se foi ouvindo ou lendo Hélio Ribeiro ou Augusto Cury; lá me alertaram de que dentre todas as preocupações, as que mais me atormentaria ao final da vida ou da minha estada neste planeta seria a de não ter convivido mais tempo com os amigos e não ter acariciado mais os familiares. Estes autores não fa-lam em vingança e nem em agressão aos desafetos, aliás, este tipo de comporta-mento muitas pessoas o primam. Independente desses autores, de forma paralela, quem também relata estes dramas é os médicos que convivem com pacientes ter-minais e, também este escrivinhador que labora em hospitais, ou seja, estamos bem próximos da morte.

Mas, parafraseando, desta feita, uma crônica de meu amigo Luiz Chaves do PT lá de Betim-MG, o que eu estou com vontade mesmo, ainda que de forma ante-cipada, é de falar acerca da data maior para os cristãos, o nascimento....

Infelizmente, a maioria das pessoas joga suas vidas fora exalando rancor, remoendo coisas inúteis, se atendo a vinganças mesquinhas, praticando arrogâncias infantis e não menos importante se projetando à custa da desgraça de outrem, ora perseguindo, ora incriminando, porquanto seriam bem mais agradáveis se tocassem a vida com o propósito de estabelecer uma relação dentro dos padrões de uma racionalidade positiva.

Praticar o perdão não é fácil, aliás, alguém já me dissera.

Jamais espere pelo último segundo para perdoar ou pedir perdão, ou seja, pa-ra ser gente. Use este dom gratuito e transforme o mundo, ou será que você veio a este planeta só para trabalhar beber comer e dormir? Para isto os irracionais já vie-ram.

Vá além. Não seja algoz de si mesmo.

Trabalhar, comer, procriar e dormir não é nada, porém, junte tudo isto à arte de criar, construir, ajudar, vibrar e unir. Saia do mundo das idéias, das promessas e do embuste ou será tarde demais - olha o primeiro parágrafo - .

Os projetos de vida não devem, necessariamente, ser faraônicos e nem pom-posos, podem até serem medíocres (acertar na mega sena é o meu caso), mas, nem tanto, só precisam ser possíveis e alcançáveis.

Dou-lhes uma idéia; Nunca batam nas crianças, até parece simples, mas não é. Tem gente por aí que não só bate como também espanca. Até criaram um código para defender os pupilos, o ECA.

Acredito que nas mãos que atingem as crianças estão as agruras do cotidia-no, as frustrações e dores do corpo e da alma, a falta de dinheiro e a carência afeti-va. Não estou neste momento fazendo nenhuma acusação aos métodos atávicos, e tampouco dando as mãos a uma modernidade implantada.

Mas eu pergunto: Bater resolve? Enquanto você é maior e mais forte do que os filhos, pode até ser que bater seja uma solução para as dificuldades de relacio-namento familiar. Mas no futuro, quando eles serão poderosos e independentes, a força não terá sentido como método educativo. Nunca teve. Não nos enganemos.

Calçando o parágrafo acima digo; tempos atrás o mundo era outro e, uma boa surra sempre era o melhor que se podia empenhar em face das desobediências.

Ocorre que as pessoas eram singelas e o mundo se limitava ao meio ou am-biente familiar, quando rompia além, eram muito pouco, por isso mesmo as decisões a serem seguidas eram as do meio familiar, ainda que distorcidas.

Vale um excerto do poeta maior; mundo mundo, vasto mundo, eu não me chamo Raimundo, e a vida é muito mais complexa do que uma rima. Quem não se reciclar terá fortes decepções pela frente.

Relembro um fato que, aliás, já o relatei em uma crônica, tive que engolir uma bituca para que meu pai não me visse a fumar, ali, naquele momento estava estabe-lecida a sua rigidez, dele e, o meu temor. Não deu outra.

Fui criado em um tempo ligeiramente esmaecido, mas, me preparei para ja-mais ter que um dia bater em meus filhos, ainda que por vezes o tenha feito.

Não é fácil, principalmente quando eles testam os nossos limites e a nossa autoridade. Mas nada substitui o diálogo, mesmo nos confrontos verbais de alto ní-vel, quando eles querem entender o funcionamento do mundo.

Dentre os momentos que passei com meu filho, o mais fascinante foi; Quando na missa da catedral, ele naquela leveza, chegada a certa altura da celebração dormiu no meu colo, naquele momento me senti muito próximo a um estado de graça e realização, pois, quando me encontrava introspectado na fé, em face da celebração, no meu colo estava o maior patrimônio de Cristo: a inocência de uma criança.

É. Como tudo que é bom dura pouco ele cresceu, lógico, e com ele foram ou-tras idéias.

Muitas, e não raras vezes, me contentava a velar o sono de meus filhos, ob-servando-os por momentos em sua pureza tranqüila, como se fossem um anjos can-sados recuperando as suas forças. Nada me impede em concordar com Fagundes Varela quando disse: “Nem o lírio e nem a neve é mais pura do que uma criança adormecida”

E aí me convenço que não é preciso bater neles, que eu estou certo de estar contribuindo para que eles sejam seres humanos melhores e, um dia possam sentir de mim o mesmo orgulho que senti dos meus pais. Façamos isso pelos nossos fi-lhos. Mas não deixemos para o ano que vem e nem para o dia de todos os santos.

Talvez um dia não consigamos mais.

De forma antecipada, como já disse, feliz natal a todos vocês que, mais uma vez, se sacrificam ao ler os meus escritos.

*Bacharel em Direito e sócio honorário da Aclécia.

DENER
Enviado por DENER em 20/11/2011
Código do texto: T3347132