PARA FALAR DE ESPERANÇAS
O ano que está por encerrar-se pode não ter sido bom, mas, não liga não! Tem outro vindo aí... E ano novo é chance renovada de fazer melhor; fazer finalmente, se ainda não fez; consertar se fez errado.
Se há algo que mexe com o imaginário do brasileiro é a mudança de ano. A velha máxima: “ano novo, vida nova!” tem a sua mais valia buscada na passagem do ano. Você olha pra trás, se zanga porque Lula se reelegeu, fica indignado com a orgia dos políticos em Brasília e no resto do país; lembra que existiram coisas como “mensalão”, “sanguessuga” e “dossiê”; dá até uma aliviada se alegrando um pouco porque Felipe Massa levou o GP Brasil de Fórmula 1, melhorando a auto-estima tupiniquim; se irrita de novo ao lembrar do salto alto na Copa da Alemanha; volta a se tranqüilizar com a revanche do Internacional no Mundial de Clubes; mas a grande desconfiança que você tem é que 2006 não foi tudo o que você sonhou...
Estas questões, então, oscilam como gangorra em sua mente, pois 2006 foi o ano em que a Petrobrás levou olé no paraíso do gás (onde Evo Morales é quem faz), e para onde Lula insiste em enviar umas centenas de milhares de dólares a título de investimento, sabe-se lá em que e para quê, gerando desconfiança. E, então, você volta a se irritar, porque um dia lhe disseram que “o Brasil era o país do futuro” e você acreditou, mas isso já faz muito tempo e o futuro chegou, mas você ainda não viu o país acontecer e seus cabelos ficaram grisalhos e seu corpo mudou de forma e tamanho e você até fez filhos, para os quais você gostaria de dizer que o Brasil do futuro deles será outro, mas você tem medo de ser chamado de mentiroso pelos próprios descendentes e você se retrai, se recolhe, e fica achando que tem alma pequena, porque sua vida não tem valido tanto a pena; não tem sido a realização de sonhos...
Mas, um ano em que teve avião da Gol caindo na Amazônia; que o Brasil marcou poucos gols na Copa da Alemanha; que a estrela do PT mudou de cor; que Zé Dirceu mostrou não passar de um zezinho; que Lula insistiu em dizer que não sabia de nada; que a impunidade foi finalmente entronizada no país das bandalheiras; não pode ser considerado um ano sem emoções...
Num ano em que Paulo Maluf foi preso e foi solto, além de ter se candidatado e ser eleito com o maior número de votos em São Paulo; que viu Clodovil resolver costurar em outras bandas; que viu Rosinha ser mandada de volta para o canteiro Goytacá; que o Fluminense e o Palmeiras escaparam da Segunda Divisão do Brasileirão; que um Pato surgiu para substituir o Galinho de Quintino nos gramados; que Bush desmoronou... Um ano assim é pra ser considerado um ano repleto de acontecimentos que alteraram a rotina amorfa do cotidiano.
O ano teve vários sustos com a bandidagem paulistana querendo dar as cartas no sistema presidiário da maior metrópole brasileira (que recusou veementemente a participação do governo federal na tentativa de sanear o problema); e terminou com a mesma bandidagem (traficantes, milícias dos morros, corja do jogo do bicho e máfia dos seqüestros e assaltos) transformando o Rio de Janeiro na terra de ninguém, onde o poder público está à mercê dos comandantes das drogas.
Mas 2007 está chegando aí. E para mostrar que não falei de esperanças, nada como a virada do último dia da folhinha para fazer-nos suspirar profundamente e aguardar um ano novo que seja diferente. O brasileiro é sonhador. O Brasil tem um povo de muita fé. Nossa expectativa é que o ano vindouro seja melhor, que a qualidade de vida seja mais interessante, que as instituições sejam mais acreditáveis. E a gente espera que de fato o ano novo traga em si todas as possibilidades de vitórias e conquistas.
Pode ser que o Governo não colabore; que os políticos continuem corruptos (isso é muito mais do que provável!); que a economia não se aqueça e que o comércio não ajude. Mas, se cada cidadão fizer a sua parte, se nossas esperanças pessoais não desmoronarem, teremos condições de fazer um país melhor. Não podemos ser coniventes com os erros e nem podemos nos acomodar perdendo nossa capacidade de indignação. Os valores e princípios morais do cristianismo devem continuar a mover nossa ação em prol de um país melhor. Que venha, então, 2007, com todas as possibilidades que a virada de ano nos apresenta!