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Alguns filósofos acreditam que a mulher é mais inteligente que o homem, enquanto outros compreendem melhor distinguir os valores da inteligência de um e de outro gênero como complementares do desenvolvimento humano. Nessa "guerra” entre os sexos, nessa luta por conquistas de igualdades e superioridades, os homens, ainda detentores da maior parte dos poderes, inteligentemente abriram mão de certas posições (como as de provedor das condições de sobrevivências da família, por exemplo) em cumprimento as exigências da libertação (financeira) feminina. O que aconteceu desde então todos sabem, sendo a feminina nova geração-piercing detentora das conquistas (de suas bisavós hippies) dos direitos a livres iniciativas, tornando-se contribuintes de “reformas gramaticais” que deram outros significados ao verbo “ficar”.

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A ideia da conspiração universal em favorecimento de necessidades individuais é fundamentada na crença de que certo Deus anda atento àquilo de que precisamos e que somos mesmo muuuuuuuuuuuito importantes ao sentido da vida do Universo, em detrimento da possibilidade de descobrirmos nosso real valor e daquilo que Deus deseja que desejemos. Em todo caso, "plantar o bem" é sempre a atitude de alguém que, na maioria das vezes, está mais interessado em colaborar com o desenvolvimento do lado bom da Criação de que de seu lado mau. E ai daquele que dizer impossível saber exatamente quem é quem.

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Adiciono algumas pessoas que não conheço e peço pra ser amigo de quem nunca vi. Mas não se preocupe: não espero que você seja minha verdadeira amiga. Não tenho direito de pôr em seus ombros tanta responsabilidade.

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O problema fundamental na administração do poder público é o de sempre, meu querido A.: gente em setores para os quais não tem competência intelectual para estar, estando apenas para atender necessidades individuais dos "representantes do povo" que, por toscos princípios políticos, são apenas representantes deles mesmos. E a coisa piora bastante quando tal acontece no setor da Educação. Infelizmente, nos parece não haver nada a fazer que a curtíssimo prazo possa resolver problemas. O negócio é ir minando as possibilidades do nascimento e proliferação do joio e cuidar melhor dos locais onde temos plantado o trigo.

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A história nos ataca quando conservadores perversos teimam em representar aquilo que já deveria ter sido extinto. Mas nós e nossos pensamentos e ações contam novas histórias, como outrora histórias fizeram outros. A despeito de meus ataques de pessimismo em relação ao futuro da desumanidade remanescente – marchará ela, graças aos poderes de uma educação humanista, a uma efetiva humanidade? – creio que é possível "escrever" capítulos melhores do que foram escritos certos passados. E mesmo que, no fim, tudo tenha sido feito mesmo apenas para ser transformado em pó.

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Como diz o escritor israelense Amos Oz em seu livro sobre o fanatismo, "ali (entre árabes e judeus) a luta é entre o certo e o certo", embora eu seja absolutamente a favor de qualquer tentativa de promoção da paz (ou, se não isso, da ausência de lutas físicas armadas ou desarmadas) em qualquer parte do mundo.

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Caro X: obrigado por sua participação em nosso “Agosto das Letras”. Suas observações sobre a quanto anda a “guerra dos sexos” foi instigante. É mesmo sua tendência à cultura da "fuleragem", e sua aversão um tanto pequeno-proletária ao caráter “fresco-burguês” da Literatura – misturada a sua sensibilidade e inteligência – o que lhe promove o sucesso como cronista, já que o Brasil, afinal, não é um país tão sério assim. "Ainda bem", dirão alguns, enquanto outros pensam melhor considerar que "brincadeiras têm hora". Gostei muito da imagem do supermachão que usa dois sabonetes para não esfregar com o mesmo o pinto e a bunda. Também gostei da provocação da escritora cidadã pessoense Maria Valéria Rezende sobre a necessidade de reflexões acerca da essência da macheza, ao citar aquele velho sertanejo que observou apenas ser “um grande macho” aquele capaz de assumir e declarar, publicamente, sua homossexualidade. Quanto ao seu sonho de escrever um romance, depois dele haverá outro: o de escrever um melhor e, depois, um “perfeito”. Melhor será não se impor obrigações e que você escreva sobre o que desejar e quando quiser – sendo esta segunda opção difícil de realizar ou porque você precisa escrever para cumprir compromissos trabalhistas, ou porque absolutamente não somos senhores de nossas inspirações e expirações. Agora que sei mais ao seu respeito, espero poder acompanhar mais de perto sua produtiva fuleragem. Grande abraço, e volte sempre.

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Caro T: às vezes, como você sabe, não é preciso ter ido a um lugar para que o conheçamos. Pitágoras dizia que não aprendemos: recordamos. Por isso, todos nós sentimos saudades de "nosso lar" primeiro, daquele recanto da Vida infinita de onde provieram as gotas de luz que se nos tornam por algum tempo. Sei que você ama nossa querida Terra e quer ficar aqui. Deixe uma marca de sua presença sobre este mundo no tronco de uma árvore secular ou numa pedra. Mais que nos livros ou em sites, será lá que a memória de nossos nomes haverão de resistir por mais tempo ao fim da história. Grande abraço.

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Caro R.: nunca soube por que via, como um filme em negativo, cardumes a passar diante de meus olhos quando os fechava para forçar a chegada do sono.

Sobre Astrologia, como de resto sobre qualquer coisa, entendo pouco. Mas sei que tudo na Vida, até mesmo a mais absurda expressão de Seu próprio absurdo, tem uma razão de ser, e então talvez mesmo aqueles que nos identificaram com animais e outros seres imaginários, a constituir zodíacos, sabiam o que estavam fazendo.

Digo isso porque também somos reconhecidos por signos. A Bíblia nos conta a história daquele que usou o peixe como símbolo primeiro de reconhecimento dos que, pensava ele, poderiam desenvolver o novo mundo dos homens. Dizem que ele mesmo era pisciano, tendo atraído também pescadores (de peixes e de homens) entre seus discípulos.

Assim, anos depois de ter visto noite após noite meus peixes antes de dormir, reconheci o valor de ser filho de uma pisciana e hoje pai de dois piscianos entre os quatro filhos que tenho.

Além de mãe, filho, uma filha e esposa serem piscianos, com frequência trabalhei com muitos do signo de peixes, como nosso querido Milton Dornellas, e então aprendi muitas coisas sobre os peixes, além do fato de que muitos são deliciosos – principalmente quando eu os preparo para comer. E principalmente as ciobas, que certa vez comprei enganado por maus vendedores de peixes até descobrir as características de forma e sabor do dito cujo e nunca mais preferir comer outro peixe.

Disse tudo isso não apenas pra exercitar minha memória e minha literatura, mas também para referendar a responsabilidade de certos vendedores de peixes – quase nunca pescadores piscinaos – pela perpetuação do nefasto exercício da desonestidade.

Grande abraço.

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Caro R.: obrigado pelo e-mail. Bom dia. Desculpe minha insistência em pretender separar a desumanidade da humanidade, mas, entre aqueles que se dizem "humanos" - cuja característica é basicamente a capacidade de sentir amor, não a capacidade de pensar - não posso concordar haver possibilidade de atos de desumanidade. A despeito do que tenha sido convencionado conceituar "humano", sou um opositor contumaz àqueles que consideram Hitler semelhante a Gandhi, entre outros como o segundo, genuínos representantes da humanidade. Grande abraço.

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Caro F.: infelizmente - e felizmente - não somos todos a mesma coisa. Se assim fosse, não haveria motivos para que preferíssemos adorar Jesus ao invés de Hitler. Você tem razão: é preciso aprender primeiro a cuidar de nós mesmos, a fazer de nós mesmos os seres humanos que queremos ver serem os outros. Mas, entre as muitas diferenças, há aqueles que só "cuidam" da vida dos outros os considerando apenas fontes de alimentos a perpetuidade de suas próprias sobrevivências. Pense nas histórias de vampiros. Toda obra de ficção, por mais absurda que seja, é baseada em fatos reais. Entre nós, muitos ainda não são já verdadeiros humanos.

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Não gosto do termo "deficientes" para designar condições de pessoas portadoras de necessidades especiais. Ao classificar tais pessoas como "deficientes" estamos negligenciando suas (capacidades para) eficiências. Tenho uma filha portadora da Síndrome de Down, de 15 anos, e sei que algumas de suas eficiências artísticas, por exemplo - fora outras de organização e bom caráter (e, para demonstrá-lo, a maioria de nós é de competência deficiente) - não podem ser demonstradas por muitos daqueles a quem consideramos "eficientes normais". Tenho amigos cegos que enxergam melhor do que muitos que dizem enxergar (condição mais avançada do que apenas ver – resultado da função da fisiologia do olho) e "deficientes" físicos que são tão eficientes quanto acrobatas. Todavia, o termo "deficiente" pode ser usado quando quisermos definir uma deficiência, como aqui fiz ao mencionar nossa deficiência de caráter. Dessa forma, reputo a necessidade de nos referirmos a certas pessoas como portadoras de necessidades especiais.

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Caro A: só não concordo com a data estimada à extinção dos professores na realidade dessa ficção, uma vez que eles já estão extintos há muito tempo. O que vemos por aí nas escolas é o resultado daquela velha constatação, feita por críticos perspicazes do sistema de ensino praticado há poucas décadas: os professores (fictícios) fingem que ensinam e os alunos (fictícios) fingem que aprendem. Torçamos para que se estabeleça então o definitivo caos a fim de que outro mundo possa vir logo a existir - embora eu concorde com os dizeres do cientista Albert Einstein: "a quarta guerra mundial será feita com pedras e paus". Grande abraço.

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Mais cedo ou mais tarde, o amor chega. E mais quando não há muita razão para que chegue. Coisas de um coração cuja razão, num futuro indicativo, ainda somente outros haverão de reconhecer.

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L: aos olhos dos outros, somos tudo, todos os contrastes. Escrevi isso num diário que mantive quando adolescente. Uma amiga psicóloga me contou ter encontrado alguém que, ao ouvi-la dizendo meu nome, rebateu: "aquele rapaz é um drogado, um louco!". Minha amiga então não soube de qual Archidy ela estava falando, porque não me conhecia daquele jeito. Quanto a minha simplicidade, não me sinto uma “pessoa simples”, mas comunicativa. Pelo que aprendi, sinto compaixão por algumas pessoas mais que por outras e procuro dar uma de bom moço, senão limpando a sujeira do mundo (porque não sou um justiceiro Super-homem), pelo menos tentando evitar sujá-lo e procurar mostrar aos outros – até onde sei – como devem fazer para que tudo fique limpo. Talvez aí a gente possa se abrir para outros tanto quantos outros se abrirão de bom grado para nós.

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É, L: mas, de fato, a África não é feita apenas de misérias e, na atualidade - de uns muitos tempos pra cá - muitas instâncias do próprio governo africano, suas milícias e selvagerias (culturalmente inspiradas nas de seus conquistadores) foram também responsáveis por muito do que se pode encontrar de pobreza entre africanos, embora isso não diminua o peso da Europa pelos crimes que cometeu; e não apenas com africanos, mas com todos os outros povos de países e continentes conquistados pelos europeus que, por sua vez, sofreram a brutalidade e as consequências depreciativas das lutas que, por séculos, a Europa manteve entre seu próprio povo. Se fôssemos aqui atrás das origens dessa merda toda, talvez fôssemos forçados a admitir que tudo começou com Caim e seus ciúmes.

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Apesar de ter sido criado entre cristãos – como todos nós – também estive entre ateus e agnósticos; como não poderia deixar de ser, se considerarmos a verdadeira "santíssima multiplicidade" de todas as coisas existentes, graças a Deus travestido de “Brahma” milênios antes que Moisés viesse a existir. Entre amantes das infinitas possibilidades da Vida divinamente considerada, nos processos humanos de criação das culturas, fui apresentado à primeira manifestação (literária) da Vida como um deus (ou Deus) no livro Mahabarahta. No capítulo Bhagavad Gita (a Sublime Canção), Arjuna quer ver a verdadeira face de Deus, ou, mais acertadamente, da Vida, e então é quando ela se lhe revela inteiramente, e não apenas como uma linda mulher – embora, se Deus eu fosse, certamente não teria imaginado nada mais belo para me representar.

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Até hoje, não conheço nenhum outro movimento cultural artístico social político que tenha contribuído com mudanças radicais na forma de ver o mundo, e determinar o valor da Vida, à instituição de novas formas de vidas mais eficiente do que o movimento hippie. Se posso definir em qual grupo social devo me considerar (ainda) inserido é entre aqueles.

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Empurrar a morte pra frente deve ser melhor do que se sentir empurrado por ela. De qualquer forma, não compreendo que nascemos para sofrer ou para ser felizes. Os propósitos da Vida são unicamente viver e fazer viver. No percurso, uns "nascem pra sofrer", como diz uma música que Tim Maia compôs depois que leu o livro “Universo em desencanto”. Outros decidem para onde lhes levarão suas pernas, cujo único propósito é fazer-nos andar. E assim caminha a humanidade.

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E.: no meio de tantas individualidades, há de fato muito em comum entre nós, basicamente o que nos move a todos a tudo isso, uns mais àquilo, outros mais àquilo outro. Mas, a despeito de que verdades comuns possam ser identificadas no meio de tantas perspectivas, é como disse também certa psicóloga norte-americana: "a verdadeira viagem seria ver o mundo com os olhos (ou com o olhar) dos outros".

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O conceito de tempo, como tudo mais, é uma experiência psíquica. Astrofisicamente, tudo é sustentado em movimentos num momento eterno. Só historiadores documentaristas, em parcerias com imaginativos escritores, preservam e inventam a contagem do tempo e sua conseqüência inevitável: o desenvolvimento da(s) história(s).

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Penso que a depressão se dá por um excesso de lucidez sobre alguns aspectos essenciais e inescapáveis da vida e, mais particularmente, da vida do deprimido. Quando em estados profundos de depressão, receber um monte de dinheiro de presente - que proporciona a maioria das pessoas um prazer somente comparada ao orgasmo - o fará pensar não merecê-lo por não ser ele gerente de nenhum depósito de lixo.

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No chamado mundo espiritual ou, como gosto de dizer, na dimensão temporal do “Espírito” - que é a eternidade - não há o movimento exclusivo para o passado ou para o futuro. Certa vez, fazendo exercícios de imaginação, pensei na história de um santo que, como Buda, depois de ter conquistado todas as etapas da percepção espiritual, morrera em algum momento do século XXI para cumprir sua última existência, antes de finalmente voltar para o Céu, reencarnando no passado como Jesus Cristo, última prova espiritual de abnegação e resistência.

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Não sou chegado a restaurante de massas. Mas apesar de gostar de uma boa lasanha, massa mesmo é um feijão verde escorrido, misturado com legumes temperados no alho com azeite e pitadas de sal e (até) cominho, depois salpicados de coentro. Pra acompanhar, salada de batata e um peixe cavala frito acebolado ou no coco, com arroz integral.

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Não há moral na Natureza, nem entre os insetos, nem entre as plantas, nem entre os animais. Na divertida comédia de animação “Madagascar” isso se torna evidente nas reclamações dos animais protagonistas da história. Acostumados com a boa vida no Zoológico, eles não querem saber dos desconfortos e violências da Natureza. Fora a Zebra que, depois de ter finalmente satisfeito seu irracional desejo de voltar à selva (onde não sabe que seus amigos leões devoram zebras), sofre as conseqüências da fome de seu amigo leonino, que atinge níveis insuportáveis, fazendo-o desconsiderar momentânea e completamente o direito à vida de seu amigo zebra.

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Não creio que alguém de bom coração, de boa índole, como se diz, queira deliberadamente machucar outra pessoa. Mas às vezes H. D. tem razão e aí não se poderá dizer certas verdades. Muitas revelarão coisas que apenas nos dizem respeito, e temos direito a não revelá-las a ninguém. É aquela história: se você não quiser que eu minta, não me faça certas perguntas, ou aguente as dores que podem lhe causar certas verdades. Por outro lado, V. tem razão: nada como o prazer de ser verdadeiro com os outros (quando possível), já que é impossível não sermos verdadeiros para nós mesmos.

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Não me incomoda que comerciantes explorem ou mesmo inventem motivos de homenagens para faturar mais. O que me incomoda é que temos sido incompetentes nas administrações de nossos poderes familiares e públicos. E agora, mais do que nunca, munidos de vergonha de nossa masculinidade, temos dado oportunidades para que “nossas patroas” dominem todos os espaços onde se pode exercer o poder. Só espero que a tal "amorosa feminilidade" não seja apenas mais um adorno feminino, uma pele de ovelha sobre corpos de lobas famintas, e que a presidente Dilma Rousseff não seja apenas mais uma "dama de ferro".

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Graças a Jesus Cristo, me tornei ao mesmo tempo conscientemente orgulhoso de minha exclusiva riqueza interior e de minhas participações na miséria universal.

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Meu caro L.: na verdade, é imensa a lista de meus quereres. Infelizmente, como todo mundo, não posso ter tudo o que quero, e mesmo o que posso às vezes não devo querer. "Não, não e não", sozinho ou na multidão, grito eu a apresentação de certas coisas no mundo. Mas e daí? Se dá aí, não dá aqui, acolá, em todo lugar, e então será melhor usar o bom senso, a razão à percepção da imperfeição de certas coisas que não deveriam ser, mas são. Se continuarão a ser ou não, dependerá mais de certos sins que de qualquer “não”. Abraços, irmão.

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Nietzsche, o anticristo, dizia que, de fato, não somos completamente responsáveis por nossos atos. Há inegavelmente heranças muito antigas que nos constituem, não apenas aquelas mais próximas que nos fazem parecer “a cara” de nossos últimos pais. E falando aos ecologistas naturalistas de plantão (absolutamente nada tenho contra eles), um selvagem jamais dará exemplos de comportamento humano, haja vista que o humano não é um produto da Natureza, mas dos movimentos da Cultura.

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Oi, L.: há verdade quando você diz que "só o que existe é o passado". Mas o problema é que ele "existe" como memória no presente que, em muitos aspectos, é o futuro de muito do que desejamos viver; mesmo que não tenhamos conseguido viver tudo o que imaginamos no passado. O verbo "existir", entretanto, tem relações profundas com o que significa o verbo "ser", somente reservado à qualificação do que É para sempre - o que é impossível para tudo o que, como nós, vive temporariamente a constituir os capítulos da História. É o que sinto. Quanto aos nossos relacionamentos facebookianos, creio que, se você se dedicar, nossas conversas aqui poderão ser muito bem aproveitadas. Pelo menos por mim. Grande abraço.

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O: obrigado pelo desejo de que Deus me abençoe. Na verdade, nas considerações de nossas relações com Deus, como bom cristão eu procurava pensar que, considerando o número de talentos que me deu, devia mais a Deus do que Ele a mim. Hoje, Deus não me deve nada e receberei Dele apenas o que Sua absoluta generosamente quiser me dar.

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O sofrimento físico é algo que acontece, quer naturalmente, porque nascemos com algum tipo de deficiência - e somos todos deficientes - ou por causa de nossa ignorância alimentar, que vem em decorrência da ilusão que alimentamos, principalmente quando jovens, sobre nossa "eterna juventude, imutabilidade e imortalidade". O sofrimento psíquico pode vir também de deficiências mentais hereditárias, mas muito dele está intimamente relacionado com a frustração, aos desejos não realizados: quanto maior a intensidade do desejo não realizado, maior a frustração e os sofrimentos decorrentes dela. Buda explica. Nessa avaliação que fazemos sobre a capacidade do outro de sofrer mais que nós, só sabemos mesmo do que somos capazes suportar em situações extremas. Como disse a morte em meu conto “Um encontro mortal”, não sabemos mesmo ainda o que são verdadeiras dores. Os padrões de conforto e sofrimento são absolutamente subjetivos: "cada um sabe onde seu sapato aperta", diz a sabedoria popular, e o desejo de uma felicidade plena é razão de muita frustração, porque irrealizável. Quanto a “quem sabe mais”, sabe mais exatamente o quê? Sei mais que você algumas coisas e você mais do que eu, outras. Os conhecimentos - ou as capacidades de conhecer - foram bem distribuídas pela Vida a fim de que, juntos, unindo forças, conhecimentos, possamos finalmente dar nossa contribuição à Criação. Porque estamos aqui para dar a Vida outros sentidos além dos cinco que ela nos deu para apreciá-la e para ajudá-la a ser humanamente melhor.

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O fato de crer que algo existe não significa que ele exista. O fato de você crer que existe igualdade entre os sexos não torna os sexos iguais. Talvez fosse melhor dizer que temos direito a considerações de igualdades, pois somos iguais na necessidade de tomar água e respirar, por exemplo. Para muitos, esses são valores suficientes para que nos sintamos iguais aos animais e as plantas, quando então se justificam lutas de naturalistas ecologistas pelo consumo de certos vegetais e preservação de florestas, além de outras amabilidades. Se considerações entre “a igualdade dos sexos” fossem correntes não haveria a grande guerra contra o surgimento de terceiros sexos. Quanto à grosseria de Sócrates em relação aos abusos de Xantipa, nunca se é sábio o suficiente para evitar arrependimentos e resistir aos encantos primeiros de uma bela mulher.

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No chamado mundo espiritual ou, como gosto de dizer, na dimensão temporal do “Espírito” - que é a eternidade - não há o movimento exclusivo para o passado ou para o futuro. Certa vez, fazendo exercícios de imaginação, pensei na história de um santo que, como Buda, depois de ter conquistado todas as etapas da percepção espiritual, morrera em algum momento do século XXI para cumprir sua última existência, antes de finalmente voltar para o Céu, reencarnando no passado como Jesus Cristo, última prova espiritual de abnegação e resistência.

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Penso que a expressão "profissão de fé" tem a ver com o fato de você acreditar que aquele conhecimento que a formação à profissão lhe proporciona é importante porque, de alguma forma, talvez pela existência da vocação, tem a ver com sua inclinação, capacidade e prazer de realizá-la. E também com o fato de crer que, para qualquer profissional, o melhor é estar sempre pronto a ser capaz de servir.

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Obrigado pela leitura de meu texto “Sobre o desapego de nós mesmos”. Se é seu intento preparar-se para a despedida de si mesma, boa sorte. Mas alerto que, se antes eu considerava religiosamente importante tal intento, agora me encontro em movimento contrário. Talvez agora finalmente deixando de ser aquele que foi feito pela memória e por uma história familiar e esteja me tornando quem verdadeiramente sou; ou deva ser.

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Quero dizer a certos advogados, médicos, professores, dentistas, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, engenheiros, políticos profissionais, cientistas, artistas, sacerdotes, juízes e quais mais profissões atuais e futuras venham a existir que todos aprendem uma profissão (de fé) em auxílio ao bem estar uns dos outros à construção de um novo mundo melhor para quem vier passear por aqui.

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Quem não gosta de ver mulher bonita? Quanto à exploração, tudo é explorado, minha querida Marieme eu, você, o espaço, as florestas, os mares e o que mais existir. No meio de tantas explorações, quantas pessoas há que imploram para serem exploradas? Quantas mulheres que, não tão belas, ou mesmo potenciais missis, passam despercebidas pelo mundo desejado que alguém as retire da invisibilidade? Só não acho justo chamar um concurso de beleza exclusivamente "humana" de "Concurso Miss Universo". Mais um exemplo de nossa incorrigível prepotência.

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Se formos ver a história do Justo crucificado, veremos que, infelizmente, em muitos aspectos, ainda hoje muitos daqueles que dizem representar a Justiça continuam responsáveis pela proliferação da descrença e da decepção.

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Não poderia ter mágoa de você, mas de mim mesmo, por não ter as condições necessárias à produção de suas boas idéias. Espero que você esteja em paz e que possamos ainda realizar alguma coisa juntos, cada um aproveitando exclusivamente o que o outro tem de melhor a oferecer como somatório ao que se pretende. E obrigado por continuar me admirando. Espero que você nunca se decepcione comigo, embora às vezes isso tenha sido, seja ou possa ser inevitável. Grande abraço.

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Não sou contra a violência física porque me sinta fraco para revidar agressões, mas porque tema intensamente reações de meu demônio interior.

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Hoje, estou cansado de pensar e dizer a outros que posso realizar coisas que, na verdade, não posso realizar; cansado de pensar que ter esperanças vai me ajudar a viver o que desejo, num mundo que desejo, com pessoas que desejo quando definitivamente não viverei; cansado de prometer o que não posso cumprir somente para satisfazer expectativas alheias, me locupletando das falsas esperanças, e do poder conquistador da hipocrisia, para aliviar o fardo de minhas responsabilidades; cansado de pensar que posso ser de fato responsável por alguma coisa, quando somos todos apenas um bando de irresponsáveis; cansado de não ser completamente entendido quando falo, quando escrevo ou faço alguma coisa; cansado de crer que a ignorância pode ser superada pela Sabedoria; cansado de pensar que sou mais sábio que outros quando, na verdade, sou tão ou mais estúpido que eles; cansado de dizer e fazer o que não quero somente porque a emoção tem se mostrado mais influente e determinante do que a razão a me levar por caminhos onde não quero ir; cansado de conviver com pessoas que, definitivamente, não são meus semelhantes, mas das quais não posso me livrar por estarem em todos os ambientes onde somente estou por não ter um lugar no mundo para onde possa ir a me refugiar de suas influências; cansado de você, de mim e de todos os que vivem sobre este mundo inútil, onde as drogas e as ilusões de poder e posse são os únicos fundamentos dos sentidos que se atribui a vida a fim de nos motivarmos a nos mover em direção a Lugar-nenhum. Enfim, cansado de me cansar e descansar e me cansar novamente e descansar e me cansar outra vez na certeza de que, um dia, “descansarei em paz”, estando inescapavelmente num sempre cansativo círculo vicioso que não me levará a parte alguma onde penso poder e dever chegar. Mas amanhã será aparentemente outro dia, e então provavelmente, por outro lapso da razão e de minha misteriosa disposição, pensarei e direi a outros que eu, como eles, podem realizar coisas que, na verdade, não podem, alimentando crenças em entes e outros mundos que nunca existiram ou podem existir. E então lembrarei novamente de Erasmo de Rotterdam e de seus elogios a Loucura, mãe de todos os que, como eu, se pensam relativamente sãos a estar dando suas contribuições as melhorias de suas próprias vidas terminais, ou à vida terminal do mundo sobre o qual nunca deveríamos ter surgido.

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Caro T.: é como eu digo sempre: entre as críticas que fazemos aos vagabundos estatais - que estão diminuindo - bom será que nossas polícias permaneçam ociosas. Isso poderá acontecer um dia, quando de uma vez por todas, todos aprenderem que o crime não compensa.

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T.: infelizmente, para explicar a vigente necessidade da coerção, do "direito do Estado usar a força", devo dizer que isso é o sintoma de um retardamento na realização da evolução das feras que somos à humanidade. Tal se processa desde séculos na luta entre a força dos desejos estimulados por instintos básicos (e necessidades não satisfeitas) e as boas intenções daqueles grandes que inventaram as artes e a Cultura. Não quero aqui usar de psicologismos para dizer onde está a raiz do problema, mas aprendi que tudo o que nos diz respeito está posto e sai dessa tensão psíquico-emocional desenvolvimentista a que todos estamos submetidos. Para saber mais, leia “O mal-estar na cultura”. Freud explica.

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Você escreveu: "A dor é mais presente do que a felicidade". Não sinto assim. Reclamo muito de minhas dores, muitas delas causadas por compartilhar dores de outros - como às vezes compartilho seus prazeres - mas no geral, senão em estado de felicidade pleno, vivo ainda ausências de dores físicas e até o estímulo de certa disposição jovial. E então, a despeito de ainda sofrer com a miséria circundante (que tento amenizar em minhas relações com meu próximo com palavras e ações), devo avaliar minha vida como boa e estar grato por isso.

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Vou escrever uma história que contará como a civilização humana progrediu, depois de ter resistido bravamente à forma de vida escrava no planeta dos macacos.