POSSESSÃO E POSSESSIVOS NO POEMA

Sim, realmente concordo contigo. Os dois espécimes enviados não são apresentados em linguagem poética, portanto não materializam a eterna Arte Poética. Falta a presença das figuras de linguagem, principalmente as METÁFORAS, que conduzem ao sentido CONOTATIVO. Nos textos, tudo é servido em linguagem DENOTATIVA, portanto, resta excluída a Poesia, tecnicamente. Além do mais, a possessão está estampada na gorda barriga do EGO autoral, e novamente resta excluído o leitor (receptor). Fazer poemas é convidar o PRÓXIMO para a festa da Palavra, curtição de CONFRATERNIDADE. Bolo de ocasião pra comemorar o fraterno. E nesta, o pronome é o NÓS, nunca a exclusividade subjetiva do pronome possessivo "MEU", que é a linguagem do mundo consumista de hoje e de todos os Tempos. Este é o formato expressivo da sociedade que aí está – que nos deixa “pê da cara” – e que irrita vivamente os poetas comprometidos com a reflexão sobre esse mundo odioso da exclusão do Outro. Fazer poemas, longe de ser autoterapia psíquica é ato de irmandade para com as coisas e gentes dispostas no mundo... Porém, pode funcionar como aplacador dos demônios que nos habitam quotidianamente, dando-nos algum alívio e gozo. Todavia, os dois textos apresentados em cartões gráficos estão bonitos e contém muito bom gosto pelo aporte figurativo. Modelários desse tipo sempre valem como remissão aos duros dias da sociedade contemporânea. Assim, por atos e fatos, não se concede espaço para o Mal. Propõe-se a reflexão moldando para o Bem... Como já percebi, a tua “websiter” é exímia na arte de acoplar palavra e imagem. Bravos! Hosanas e méritos também a ela. Estás de parabéns! E mais: na Grande Rede há muito espaço para essas mensagens de ‘quase-poemas’. Nem sempre a forma é o mais importante. Somente me atenho – fundadamente – aos modelos e cânones da poética da contemporaneidade porque este é o meu ofício: o de cantar o Belo para os esfomeados de Beleza dentro da palavra, no ventre delas... E cada um tem a sua linguagem, a que lhe apraz, lhe faz bem e satisfaz necessidades. A FELICIDADE é bem maior que surge, tingida de variadas cores. E esta pode ser aquela que deseja o autor. Cada um tem os seus parâmetros analíticos para produzir a congeminação dos signos verbais. A Arte é fruto de um emaranhado psicofísico. O que seria do azul se todos gostassem do vermelho? Que o digam os gremistas e colorados... Ou teríamos de trazer à lembrança Tarsila do Amaral, Picasso ou Salvador Dali?

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

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