É bom...
É bom poder ver a noite, sabendo que logo veremos um novo amanhecer, cheio de luz que ilumina e aquece todos os seres e faz surgirem todas as cores e tudo vibrar de alegria e contentamento.
É bom poder ouvir coisas que nos desagradem, pois é sinal de que também podemos ouvir as maravilhas de uma sinfonia, a singeleza do canto dos pássaros, a voz de uma pessoa querida.
Também é bom sentir o cheiro fétido e nauseabundo das coisas apodrecidas, pois, outras vezes, podemos experimentar perfumes indizíveis, celestiais, que nos inebriam de prazer e emoção.
Bom também é ter na boca o sabor amargo que alguns acontecimentos nos causam, pois logo podemos também apreciar todas as delícias que Deus reservou ao nosso paladar, para nossa alimentação.
E é bom depararmo-nos com as asperezas da vida, com os terrenos íngremes e áridos, sabendo que também podemos conhecer e tocar a suavidade da seda, a maciez da pele de uma criança, sentir o frescor da brisa da manhã e a delicada massagem da areia da praia sob os pés.
Bom é sentir as maravilhas que Deus nos proporcionou e sermos agradecidos a Ele por esse acréscimo de bondade, nós que ainda somos tão imperfeitos e necessitados de Seu infinito amor.
Pois ainda precisamos dos horrores da guerra, para que possamos nos empenhar cada vez mais na conquista da paz universal.
E são necessários o calor e frio excessivos, para que possamos valorizar a justa medida das coisas, a sabedoria existente no equilíbrio, no meio termo, na ponderação.
E necessitamos ainda das dores físicas e morais, para que reconheçamos e agradeçamos a saúde, o bem estar e a capacidade da livre locomoção.
Também precisamos presenciar a miséria, a fome e as condições subumanas de vida, para que aprendamos a valorizar o que temos, a não reclamar do que não temos, a evitar o desperdício de alimentos e de outros recursos, e aprender a controlar o excessivo consumo de supérfluos.
E, quem sabe, teremos que sentir na pele a indiferença alheia, para aprendermos a praticar a empatia e a solidariedade.
Talvez precisemos conhecer as trevas da ignorância, antes que busquemos a claridade das luzes do conhecimento e da sabedoria.
E talvez seja preciso experimentar a extrema carência material, consequência da indolência e da preguiça, para darmos valor ao trabalho honesto e diuturno, que proporciona o progresso físico e o desenvolvimento espiritual.