Lágrimas que ensinam...


Há exatos um ano e três meses uma fatalidade levou para o plano espiritual minha esposa de 34 anos, uma filha de 11 e um filho de 17. A partir de então venho buscando uma maneira de conviver melhor com o terrível sentimento da perda, da saudade, do abandono e outros tantos decorrentes de uma perda dessa magnitude.

 
Aprendi com a dor. Inicialmente, que o controle que eu tenho sobre os fatos da vida é muito pequeno. Que as grandes mudanças ocorrem sem que eu possa fazer nada. Que em situações como essa minhas credenciais profissionais, minha experiência, minha força física e todos, mas todos mesmo, os recursos de que disponho valem pouco mais do que nada.
 
Aprendi que minhas lágrimas, meu choro e meu desespero em nada alteram o fato irremediável de que as pessoas que eu amo não retornarão mais ao meu convívio. Não ouvirei suas vozes, não desfrutarei de sua companhia, não ouvirei suas queixas e nada mais poderei fazer por elas.
 
Nesse momento de dor e de desespero passei a questionar muitas coisas, Deus, a sociedade, o sentido da vida, as pessoas, o bem. Por vezes perdi o gosto pela vida desejando que ela terminasse o mais rápido possível para ver o fim de meu sofrimento.
 
Como não me restasse mais nada resolvi, ao menos, colaborar com meu processo de superação, não impedindo-o, não atrapalhando-o, não criando obstáculos. Foi então que comecei a desenvolver um certo senso de prioridade que vem me auxiliando desde então.
 
Não demorei a admitir que a única coisa que me traria de volta a uma vida normal seria a esperança de que isso pudesse realmente acontecer. Passei a buscar a esperança como o principal alimento espiritual para esse momento denominado por muitos de “inverno da alma”.
 
Passei aos poucos a admitir que embora eu não pudesse mudar os fatos eu poderia mudar minha compreensão sobre os fatos e descobri aí o fio da meada. Comecei a buscar avidamente por tudo o que me pudesse fazer compreender um pouco mais  o que me aconteceu.
 
Rapidamente pude perceber que meu coração ansiava por respostas e que, nessa busca, ora me deparava com respostas satisfatórias, ora com respostas absurdamente ridículas. Passei então a preferir aquelas cujo teor fizesse sentido, que me acalmassem o coração e, acima de tudo, que me restabelecessem a esperança.
 
Sempre tive muita simpatia por idéias religiosas e até já fiz parte de algumas religiões e como o objeto maior de todas elas é explicar qual é o sentido da vida, busquei nelas o tal sentido. Aprendi que todas elas possuem respostas, mas que a satisfação com as respostas dadas depende diretamente daquilo que estamos buscando.

Se o que busco saber resta satisfeito nesta ou naquela religião, ótimo, essa é a religião certa. Mas se em meu coração as respostas que encontro não me trazem esperança ou não satisfazem meu grau de inteligência significa que devo continuar procurando até achar, é certo que, por existirem tantas, alguma irá atender meu grau de consciência.

 
No meu caso, com formação católica, tendo sido por alguns anos evangélico, com boa leitura sobre religiões orientais, bem como sobre várias religiões conhecidas de todos nós, não tive dificuldades de encontrar algo que me atendesse.
 
Foi assim que cheguei ao Espiritismo. De repente me senti como um cientista da idade média que já não suportasse mais as explicações religiosas da época ( Santa inquisição, guerra santa, terra plana, geocentrismo etc) e se deparasse com o iluminismo científico do Século XVIII. De repente encontrei uma religião que se dispôs a avaliar o fenômeno espiritual sob a ótica do questionamento, da razão, do estudo dos fenômenos.
 
Allan Kardec, codificador  do Espiritismo, representou para a religiosidade mundial o que um Rousseau representou no campo da política, ou o  que um Augusto Comte representou no campo da sociologia.
 
A leitura das obras básicas como “O Livro dos Espíritos” e o “Evangelho Segundo o Espiritismo” são de uma clareza singular, obras verdadeiramente capazes de modificar nossa visão sobre a vida, sobre Deus, sobre o significado da morte. Não creio ter encontrado todas as respostas, mas as que encontrei estão me auxiliando a me tornar um ser humano melhor. 

Convido você leitor, àvido de respostas, a lê-las!