Sua dona os deixa soltos, livres: não fugiriam nunca, ela sabe.  Abandoná-la?  Jamais.  Alguns, atingidos às vezes por patadas ou rosnados de certos componentes da matilha, ainda miram a saída, a estrada, em dúvida.  Vaidades arranhadas, orgulho mordido, méritos questionados...  
          - Caim!  caim! - reclama este, rabo entre as pernas.
          - Grrr!  Arf! - contra-ataca aquele, feroz, defendendo sua dimensão intelectual.
          Então dizem: “Almas mínimas!  Estamos saindo.  Aqui nunca mais!”

          Só que nem atravessam os portais dourados do site: o "Fica!  Fica!" coletivo funciona, emocionante.  Dóceis gestos.  A dama sorri, discreta.
          Outros porém, orelhas em pé, farejam neotalentos, saudando-os:
          - Wow...  wow...
          A todos basta que ela os chame pelo nome e os cubra de ternura verbal.
     

       Uns se afastam temporariamente, devido a saúde, viagens, estudos, negócios.  Outros encanecem aqui.  E quase todos 
morrem aqui, onde têm água, comida, carinho e cuidados - sonho inconsciente de qualquer cão companheiro.

         Houve um tempo em que a dona prometia o céu literário aos que melhor uivassem.   Chegou no entanto o tempo de afirmarem que já se acham no paraíso...
         Setenta mil escritores convivendo felizes, corações em júbilo. 
         A senhora Literatura espera que todos desabrochem, enflorem e deslumbrem, cânticos vivos ao pé de límpidos riachos.
  
              
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 31/07/2011
Reeditado em 10/08/2011
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