MARROM
Marrom
Aponto o lápis, traço e vejo cores, cores! Cores reais, as cores vivas, as cores que ofuscam. Cores que não me deixa cega... Cores que surgem em nossas vidas ficando claras ou escuras com o sombreado do lápis que pintamos.
O lápis não deve ficar solto. Sem controle o grafite borra. Sem controle o que era cor, vira incolor, tão imperceptível que não lembramos as origens dos tons.
Temos intocáveis tons na memória. Reparo a intensidade do tom, percebo poeiras do tempo.
Poeiras cinza, cinza tão visível simbolizando a depressão, os anseios e o medo do novo. Cinza esse que fazia acreditar na estabilidade e no sucesso.
Todo o dia subia aquela rua, com poeiras cinza na mente. Anos subindo e descendo. Muitas vezes com o Negro, onde o preto, a cor que idealiza a morte, só me mostrava que o tom era de dignidade.
Nas subidas e descidas, meu olhar era branco. Um branco de limpeza, com junção de frieza. Um branco que se confundia com inocência e pureza. Dias que o branco era encardido, imitação de um bege, o clássico, mostrando a melancolia escondida.
Subidas e descidas daquela rua. Quebrávamos a rotina, sentávamos no banco, sentíamos as grades. Grade nas palavras e nos gestos, grade vermelha. Grade vermelha de sentimentos e das paixões. Grade vermelha de orgulho e da agressividade. A grade do aço, vira a grade de ressentimentos, o lápis quebra a ponta.
Afiado tentamos risco em amarelo. Tentávamos transmitir alguma prosperidade e descontração, tudo uma grande frustração. Voltamos a grade vermelha.
Novo sombreado, o grafite precisava me passar um novo vigor. Precisava de juventude e frescor, precisávamos do verde para ver vida em cada palavra. Um verde de esperança em frases prontas com tons de sinceridade. Verde de calma e confiança.
Borramos várias páginas, perdemos a fidelidade e lealdade! Uma personalidade oculta, receosa e até mesmo mentirosa. Não tínhamos sonhos, ficamos frios, calados! Poderíamos ter feito um grande borrão em azul, com a cor do céu, do espírito e do pensamento.
Já não subia e descia aquela rua. Já não tomava mais a chuva e já não via a grade vermelha. Grade de ressentimento foi vencida por janela azul clara, trazendo a compreensão de atos impensados, trazendo brisas de tranqüilidade.
Descubro que nesse jogo das cores, todas foram importantes com diversas nuances, mas em especial a cor marrom, uma cor que lembra a cor da terra, a cor do chocolate. Trás a resistência em gestos, mas vence pela simplicidade, no fundo é a cor da terra, é a cor do meu chocolate. Vejo que é a cor quente que traz junto consigo a responsabilidade, lembrando o preto, com tanta dignidade.
O lápis está grosso, poroso de tanto escrever, mas com direção. Controlado para ser harmonioso, mas não tão cuidadoso.
COrtega 23:29