Não estranhe...
Não estranhe se não me ver passar...
Preciso seguir por outros caminhos.
Não estranhe se não sentir minha presença, ainda que discreta...
Preciso ir de vez...senão talvez, eu nunca vá!
Não estranhe a falta de notícias...
Os poucos sinais de que estou por ai...
As ausências prolongadas...
O peso indelével da voz que cala,
O texto não escrito...
A poesia inacabada!
Não estranhe nada, não estranhe tudo...
Eu preciso ir...e por um tempo não saber o que acontece...
E por um tempo não contar o que sucede aqui...em mim, na minha vida.
É difícil tomar a decisão de ir...
Quando o que se quer....é ficar, é estar...é ser.
Mas não posso, se fico sinto-me afundando em águas turvas e frias...
Estas águas tuas que envolveram, dando a falsa impressão de que eram quentes e cristalinas...
Já estive nestas águas por muito e muito tempo...
E fui afundando até o mais profundo lodo que vem de ti...falso lago de águas cristalinas!
Não entranhe quando perceber que o que sabe de mim...é o que todos sabem!
Não estranhe quando sentir que és para mim...apenas mais uma pessoa em meio a tantas outras...
Não estranhe ao perceber-se apenas mais um, depois de ter sido único... Não...não estranhe nada, pois o tempo levou tudo quanto um dia você conheceu...
Hoje nada mais lhe é familiar...nada pode lhe dar a sensação de pertencer...ou de ter pertencido...
O peso foi retirado dos meus ombros...por isto eu preciso ir, sem olhar para trás, sem medo, sem qualquer impedimento...
Deixo pelo caminho algumas marcas profundas...outras nem tanto.
Deixo também...os desenganos, as ilusões perdidas...os sonhos desfeitos...
Mas levo comigo tantas recordações maravilhosas, tantos sentimentos de felicidade, alegria, gratidão e amor.
E é revestida pela armadura destes sentimentos bons, que começo minha jornada...por isto...
Não estranhe se não me ver passar...
Não estranhe a minha ausência...
Preciso ir por um tempo...
Reconstruir a minha essência...
Para então voltar inteira...