UMA REFLEXÃO

Dias destes proferi uma palestra para os alunos da quarta serie. Quando conclui, cheguei a ficar constrangida com os aplausos de agradecimentos. A reação espontânea dos alunos, num prolongado aplauso me fez sair dali feliz da vida, como uma criança que acabara de receber um novo brinquedo.

Senti que ganhei muito mais do que havia oferecido, pois pude ensinar aqueles adolescentes um pouco de cidadania, civismo, respeito e amor pela leitura e pela escrita.

Fui caminhando devagarzinho até o carro, as crianças, felizes me acenavam. Dei a partida no carro, e quando cheguei à esquina, parei.

Desci do carro, para olhar o sol que começava a declinar.

O lugar onde estava era num alto, onde de um lado se avistava toda a cidade, e no lado oposto, podiam ser vistos os campos e as plantações.

Lá em baixo estava um vale, todo florido, e um riacho que contornava os belos pés de cipreste e araucárias.

Meus olhos percorreram os campos cobertos pelo trigo, já seco, á espera da colheita. Um mar de cachos dourados ondulando suavemente ao vento.

Lá do alto, eu podia ver as pessoas indo de um lado para outro.

Algumas com expressão cansada por mais um dia de labuta, outras desanimadas pela busca do emprego não conquistado, a passos lentos, sem nenhuma perspectiva para o outro dia.

Havia também as apressadas, talvez pensando no reencontro com a família. Nos portões e na rua, crianças a espera do retorno dos pais, do abraço, do afago, da mordida.

Via sorrisos, acenos, abraços e despedidas.

São esses momentos que dão sentido a nossa própria vida.

A chuva havia cessado e lá estava eu, diante de mais um maravilhoso espetáculo:

Um lindo arco-íris entre os raios dourados do sol poente e as nuvens que começavam a encobri-lo, anunciando que a noite se aproximava.

- “Além do arco íris existe um país imaginário, o país dos sonhos”, - pensei.

O cheiro da terra molhada e das flores lhe dava à sensação de que a vida renascia. A grama, depois da chuva, ficou verdinha e a natureza ganhou nova roupagem multicolorida.

Os ipês revestidos de flores estavam ali, desafiando a própria natureza. No chão, se avistava um tapete colorido, com flores e folhas que faziam um desenho jamais visto cheio de formas e contornos.

O sol estava se escondendo dando prenúncios de que logo desapareceria. Daria lugar a lua e estrelas que completariam aquele espetáculo ímpar e único.

Naquele instante mágico, deixei de chorar sobre as folhas mortas e senti que a vida me sorria.

- “Nada morre. Tudo se transforma em vida” - murmurei.

Contar uma história, declamar uma poesia, é para mim a coisa mais importante, pois, em meu conceito, estou rememorando e perpetuando a vida.

Todos iriam se recolher, para repousarem seus corpos cansados pela labuta do dia.

Mas a vida seguiria, o sol em sua órbita estaria fazendo o seu trajeto e a terra o seguiria.

Certamente, no silêncio daquela noite, mais uma poesia nasceria...

Edina Simionato
Enviado por Edina Simionato em 20/05/2011
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