Ser professor

Wilson Correia

Conta-nos o colega Érico, Físico, professor no CETEC, que, no debate entre os candidatos à Reitoria da UFRB, o professor Luiz Gonzaga disse ser o CFP “algo que tínhamos que conviver” (sic), fazendo o profético anuncio: “Os cursos do CFP não possuem interesse do mercado!”. Para completar, assegurou à platéia “Que é caro manter um câmpus em uma cidade como Amargosa, distante do centro administrativo da UFRB”. Que os amargosenses o desculpem, pois, sinceramente, creio que esse senhor não sabe o que está falando.

Mas, diante dessas “sapientes” declarações, é oportuno indagar: Se é caro manter o Centro de Formação de Professores, o quanto nos custará a manutenção da ignorância? –como sugere Berek Bok.

Sobre a segunda frase dele, digo: Que alívio saber que “Os cursos do CFP não possuem interesse” de mercado. Claro! Os cursos do CFP investem no ser humano, esse para o qual o mercado nasceu, o qual o mercado tem dificuldade de manipular. O tempo em que se mercadejava com o homem e a mulher ficou para trás, como algo que nunca deveria ter existido. Será que o candidato quer restabelecer aquele tempo e reinstaurar o regime de escravidão, durante o qual o humano era vendido em praça pública? Não será a perda desse tempo o motivo do lamento feito pelo candidato?

Sinto-me aliviado pelo fato de o citado candidato dizer que o mercado não se interessa pelos cursos do CFP por mais alguns motivos: não tendo o mercado nenhum interesse pelos nossos cursos, estou livre de mercadejar com as coisas humanas e livro-me de ter que vender o conhecimento segundo a lei da oferta e da procura. Meu aluno, igualmente, não precisará se postar diante de mim como quem compra uma mercadoria, mas como quem produz conhecimento por meio da vivência da relação pedagógica.

Com isso, também as informações, conhecimentos e saberes decisivos à educabilidade humana escapam da venalidade, mantêm-se como instrumentos contra o pensamento mágico, ingênuo ou fanatizado, encaminhando-se à consciência crítica, a qual, como nos ensinou Paulo Freire, faz com que professores, estudantes e técnico-administrativos do CFP possamos ter a maturidade necessária para não nos sentirmos os piores do mundo: antes de o mercador nos desmerecer, a ele o seu devido lugar.

Em verdade, não somos venais. Não somos mercadoria. Não estamos à venda. Sabemos que as coisas decisivas da existência não nos chegam mediante desembolso de valores materiais. Nossa missão é a de formar o humano para o humano e, nesse sentido, o mercado nos faz um favor de não querer nos cabrestear. Nossa liberdade é nosso maior patrimônio, é o valor que nos motiva o sentimento de pena diante dos alienados literais.

De fato, o CFP é “algo” com o qual “temos de conviver”, não como um fardo, caro e desprovido de sentido humano e social. Não! Mas justamente porque é no caminho contrário que ele se encontra. Temos de conviver, positivamente, com o CFP, porque nossos filhos e os filhos do povo têm direito à convivência com professores e professoras, mediadores entre o não saber e o domínio da cultura simbólica. Temos de conviver, e da melhor maneira possível, com o CFP, porque, sem ele, em nosso meio não encontraríamos os advogados, médicos, contadores, engenheiros e... os agrônomos. O Papa passou pelas mãos dos professores e, segundo consta, até Cristo os prestigiou. Quem é o candidato citado para desmerecer a professora e o professor?

O fato de professores e professoras não produzirem mercadorias rentáveis pedidas pelo sistema de mercado não afeta, em nada, o valor que eles têm, pois aquilo a que se dedicam é à fundação de mundos possíveis, onde o humano possa viver e, a contento, a sua condição de ser livre, com direito à felicidade e à autorrealização.

Se o professor é aquele que professa, certamente, ele não coloca em primeiro plano a sanha consumista e lucrativa que campeia o mundo capitalista, mas mobiliza valores implicados na humanização até onde ela for possível, inclusive a do mercado.

Aí está o sentido de ser professor, ao qual as frases registradas acima dão a entender que o referido candidato não teve ouvidos. Se tivesse escutado os professores pelos quais passou em seu tempo de estudante, quem sabe hoje ele não teria um discurso à altura da função que deseja exercer em uma universidade?

Ás vezes, ouvir os professores significa não apenas adquirir instrumentos para a superação de nossa ignorância, mas, sobretudo, ganhar freios contra a nossa própria estupidez – que pena que o candidato em referência, por não ter ouvido os próprios mestres, hoje só tenha isso a nos oferecer!