As Crianças Da Escola de Realengo

As Crianças de Realengo

É espirituoso como na cultura brasileira sempre é necessário que o ladrão primeiro roube a casa para que depois haja a preocupação de trancafiar a porta.

A discussão sobre o motivo que levou um rapaz aparentemente “inofensivo” a cometer uma barbaridade sem fim contra pré-adolescentes em uma escola no Rio de Janeiro percorre os meios de comunicação e promove acalorados debates de especialistas em Criminologia e Psicologia.

Há quantos anos já não se sabe da violência que ocorre nas instituições de ensino, tanto contra os estudantes como contra os professores e coordenadores destas. Entretanto, pouco ou nada se faz. Nem a sociedade nem o Estado.

Pois bem. Outro dia publicou-se na internet uma enquete, que atribuía ao atirador, em sua maioria, a responsabilidade pela tragédia ocorrida na Escola de Realengo, em segundo lugar era apontada o Poder Público e por derradeiro a Sociedade.

Sem Dúvidas, o autor dos disparos foi o maior responsável. A Dúvida que permeia nossa existência é a seguinte: o assassino foi o único responsável? Porque se assim o for, não mais ocorrerão situações semelhantes, pois o motivo não mais existe, está morto.

No calor das discussões há quem diga que o “Bulling” sofrido pelo matador foi fator primordial pelo massacre de Realengo. Entretanto, todos sabem que a prática do “Bulling” por si só não justifica a ação devastadora.

Quantas vezes já perpetramos chacotas contra nossos colegas de escola e outras tantas vezes fomos vítimas das “zoações” de nossos companheiros de classe. Porém, em outro tempo, existia a presença da família para solucionar os traumas e problemas que eram vividos na escola. Bulling não é novidade, sempre existiu.

Acontece que em tempos passados as pessoas eram criadas e vigiadas por suas mães e pais, que tinham todo cuidado de saber qual era o rendimento de seu filho no colégio.

Agora o que temos? Pais que não conhecem a necessidade de seus filhos e que se quer sabem o que lhes ocorreram durante o dia. E os professores? Salvo os que nasceram com o “celibato escolar” nem se importam em “educar” seus alunos a serem cidadãos, em vez de “ensinar”, aqueles apenas visionam cumprir suas tarefas e aplicar as aulas na medida do possível, isso proporcionalmente ao salário insatisfatório que auferem.

É fato que o delinquente foi motivado por fatores afetivos, pois não possuía estrutura, não tinha família, não havia proteção na escola etc... Nada que justifique sua atitude, a qual recebe o maior grau de reprovabilidade. Entretanto, a culpa pela tristeza que agora percorre os corações desta Nação não é exclusiva daquele.

Mas porque somente agora insurge essa mazela que outrora era observada somente nos países chamados “primeiro Mundo”?

A falta de amor é o motivo. A iniquidade agora toma conta, a regra é a violência, o vídeo game é violento, a televisão é violenta, a internet é violenta, a mãe o pai, a babá, e, inclusive, alguns mestres e mestra da Sala de aula. Ninguém tem piedade por ninguém, e nem é ensinado a ter. O amor foi suprimido.

Não se prega mais o amor e o respeito ao outro, não se cuida em educar na escola e muito menos em casa. A culpa é coletiva.

O Poder Público só se manifesta para lamentar o ocorrido, ao mesmo tempo em que abrolha fazendo propaganda dos “excelentes” primeiros 100 dias de governo.

Há muita Hipocrisia no Estado. Podem colocar chips nas armas, acionar portas detectores de metal na escola. Vai ajudar, mas não vai adiantar. Seria interessante que acionem detectores de bombas também, de armas brancas, do uso de emprego de armas químicas etc., pois existem meios alternativos de se cometer um massacre que não seja pela utilização de armas. É certo que bem melhor seria que não existissem armas, mas simplesmente suprimir a existência destas não resolve.

Essa é a cifra macabra, resultado da falta de amor e cuidado com nossas crianças e da política ineficaz de assistência do Estado: Doze vidas inocentes sacrificadas, centenas de pessoas traumatizadas e 180 milhões de vítimas do medo.

Outra vez, quando arrazoarmos sobre a sociedade que se configura para os dias vindouros é importante questionar sobre que mundo está se deixado para nossos filhos, ou sobre os filhos estamos deixando para nosso mundo?