QUEM SABE UM ATÉ BREVE...
 
                             “O poeta é um fingidor,
                              finge tão completamente
                              que chega a fingir que é dor
                             a dor que deveras sente”
                                                      Fernando Pessoa
 
   Aproveito este momento oportuno em que o sol se vai, indo repousar após um dia de brilho intenso, dando lugar a rainha lua misteriosa e linda, acompanhada de suas súditas as estrelas, que embelezarão a noite, musa inspiradora de tantos poetas e escritores notívagos.
 
   Não quero privá-los da beleza da noite com a leitura deste texto que nem sei como classificar, a não ser que é um desabafo de um sentimento contido no peito que me pede quase suplicando para que o externe. Que o leia, portanto, aqueles que porventura não se importe em perder alguns preciosos momentos e estarão certamente tentando entender o que me leva a escrever.
 
                             “Quem pensa que finge o poeta,
                               não o conhece internamente,
                               nem sabe que a dor que o afeta,
                               deixa-o triste, infelizmente.”
 
    Bem sei o quanto gosto de escrever. E escrevo o que sinto, sem me importar com métricas, rimas, ou estética poética. Escrevo e pronto. Escrevo o que o coração dita. Não fabrico poesias. As faço compulsivamente, rimadas ou não, sem me importar em separar por estrofes e versos soltos. Cada poema é para mim como um filho e, invariavelmente os escrevo às lágrimas, tomado pela emoção que brota do meu íntimo, da minha alma.

                            “E me perdoem se eu insisto nesse tema,
                             mais não sei fazer poema ou canção
                             que não fale de outra coisa
                             que não seja o amor.
                             Se o quadradismo dos meus versos
                             vai de encontro aos intelectos
                             que não usam o coração
                             como expressão.”
                                              Antonio Carlos & Jocafi

   Não me preocupo em produzir mais e mais textos com o objetivo de que as pessoas leiam e comentem, aumentando o número de visitas ao meu recanto. Quero que leiam pelo conteúdo e não pela quantidade. Aos que lêem, procuro fazer entender os sentimentos que exponho em cada poema, muitas vezes transmitindo ao leitor aquilo que ele gostaria de ler, ou mesmo de expressar.
 
                             “A paixão ninguém escolhe,
                              e as musas também não,
                              estas surgem de repente
                              instalam-se no coração,
                              inspirando o poeta
                             que escreve com emoção.”
 
   Poetas vivem de inspiração. São como as plantas que requerem carinho e cuidado. Poetas são sensíveis e choram à toa, muitas vezes agem como criança e sem pensar, agem com insensatez, sem perceber, e colocam nas palavras as coisas que pensam sem se preocupar com conseqüências. Que se perdoem os poetas, pois são criaturas sensíveis e sem maldade cujo pecado maior é utilizar as palavras para definir o que verdadeiramente sente. 

                           " Uma parte de mim é todo mundo:
                             outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
                            Uma parte de mim é multidão:
                             outra parte estranheza e solidão.
                            Uma parte de mim pesa, pondera:
                             outra parte delira.
                            Uma parte de mim é permanente:
                             outra parte se sabe de repente.
                            Uma parte de mim é só vertigem:
                             outra parte, linguagem.
                            Traduzir-se uma parte na outra parte
                             - que é uma questão de vida ou morte 
                             - será arte?"
                                                           Fereira Gullar
 
   O que faz o palhaço ao fim do espetáculo? Retira-se solitário, muitas vezes triste ao recôndito do seu camarim, para retirar a maquiagem que fez a alegria das pessoas. Invariavelmente os palhaços são tristes. Os poetas também são. Todo poeta é triste porque de outra forma não seria poeta.  Este, quando sente perdida a inspiração, a musa longe de si, definha como uma flor deixada de lado, que vai murchando, deixando cair pétalas como lágrimas perdidas, até morrer de vez. O poeta sem musa e inspiração sofre, por isso necessita isolar-se em algum canto onde possa reconfortar-se com a dor da perda, tentando reabilitar-se... Ou morrer de vez.
 
   Sinto-me assim, ferido e dilacerado por dentro, o coração sangrando em silêncio, e por mais que procure um jeito de escrever, não me saem palavras. Retiro-me deixando o que escrevi para os que me lêem terem sempre algo que possa lembrar-me. Não sei se volto. Quem sabe um dia...

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 13/04/2011
Reeditado em 14/04/2011
Código do texto: T2907032
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