Mais Um deu Zero
Penso ir embora... deixar o sol e as terras em que me tornei "persona non grata", (será que é assim que se escreve?) ao léu, assim como milênio após milênio, falando fiquei... São épocas e épocas sem colocar os pés no jardim solar. Por que? Porque foi só caminhar suas estradas e deixar marcas de pegadas... ele parou de florescer. Só um tolo não entende essa mensagem punitiva. As flores nem apontam mais brotos depois que maria passa. Como se mandassem uma missiva... uma mensagem que fala: assim como secou as entradas, o mundo de palavras também seca... onde crescem flores não existem mais portas. Nem chaves que abram os cadeados instalados só prá afastar... Por isso penso ir embora... Penso sim... ir embora da terra do sol, morar para além do caminho do leite, onde ninguém mais me acha... Por que a música nunca tocou prá mim. E feita de dois, e um não pode mais entrar. E a soma disso ficou um, eu maria, de longe à escutar... Nem mais um canto feito, nem mais uma melodia de palavras, nem mais uma linha. As terras que ainda existem se encontram desabitadas, abandonadas, encapoeiradas e as que são produtivas ganharam cercas, muros e placas... de "área restrita". Então... Penso ir embora... Não sei pra onde... Procuro, um planeta que me acolha, uma nuvem onde as asas pousar... Caminho nas trilhas interiores e não vejo mais possibilidades. Em cada parede uma frase. Desenhos encravados. Lindas e meigas poesias de amor que ainda não se fizeram ser, foram abandonadas com fervor, sonetos que nunca escrevi e enigmas que nunca foram lidos, em profusão... nunca saíram das profundezas... todos sem saídas, sem respostas, sem solução... No balancete final, a soma de um mais um, deu zero, como se fosse uma subtração. Por isso... estou pensando ir embora... me afundar no lodo, no charco dilatado de meu próprio coração.