Pelos caminhos da vida

Dois homens seguiam pelo caminho. Corações cansados de uma ansiedade decepcionante. Olhos marejados de incertezas, mas ainda assim seguiam seus caminhos.

Havia uma expectativa que foi alimentada em três anos de convivência, é que Algo Maior acontecia por meio de um Nazareno chamado Jesus, e não só pelos muitos milagres, mas também pelo Projeto apresentado por Ele em discursos e atitudes.

Porém, Aquele Jesus já não era. Morrera condenado pelas Leis romanas. Morte Cruel, crucificado numa cruz. Desde então só restava aos dois homens caminhar.

No movimento da vida, nos permitimos seguir o fluxo dos nossos pensamentos. Aos poucos nossas certezas vão tomando formas e o real substituindo o sobrenatural. Veja que, os homens conversavam sobre as idéias, verdades prontas, expostas pelos corações e se permitiam interpretar a fé como algo que poderia ser manipulada pelo coração.

Até que num determinado trecho do caminho, um estranho se aproximou e passou a fazer parte da conversa. O homem perguntou sobre o principal assunto e foi "informado" sobre as últimas noticias que davam conta da morte do, possível, Messias prometido nas Antigas Escrituras. O novo companheiro de jornada se mostrou interessado e lembrou que tais escritos, também mencionavam sobre o sacrifício do Cristo. Porém os homens seguiam irredutíveis, afinal como o Cristo poderia se deixar prender, carregar uma cruz, ser humilhado e morrer. Assim são os nossos pensamentos. Eles são formados a partir dos conceitos que criamos no decorrer da vida. Há em cada um de nós, uma resistência a tudo que não seja de acordo com estes conceitos, e na época Israel esperava um Cristo a imagem do Rei Davi, maior monarca da história do país, que libertaria o país do julgo dos gentios e não um Cordeiro, que de deixou sacrificar.

Ainda assim, o estranho ouviu com atenção até que os homens chegaram ao seus destinos. Já era tarde. Ocorreu então, a idéia de convidar o viajante para pousar, pois "Era noite".

Por mais que sejam justificados, os conceitos prontos não se sustentam. Basta se permitir alguns sinceros questionamentos que ocorrem durante a existência: quantas vezes mudamos de idéia? Quantas vezes pensamos em matar alguém? Quantas vezes justificamos o desprezo, o ódio e as mágoas? Já pensou como seria nossas vidas se tudo o que pensamos como verdade do momento, fosse práticas realizadas? Assim, nosso caminhar em pensamentos baseados só em nossos conceitos nos conduzem a noite da vida.

Já não havia mais o que questionar, a não ser... Convidar o viajante. E como de costume serviu-se a ceia. Foi aí que o Convidado partiu o pão. O gesto, comum e familiar entre os judeus, revelou o inusitado: Era Jesus! O que não se revelou pelo discurso, foi revelado na simplicidade do ser. Simplicidade esta que nos parece irrelevante, já que precisamos ser algo além do simples. Além das expectativas. Além daquilo que sentimos ou pensamos ou sendo mais franco: devemos esconder o que sentimos.

Havia naqueles homens uma boa vontade tremenda de entender o que acontecera, porém a lição nos traz a memória que, acima do que pensamos e vivemos, Deus tem seu Próprio Caminho. Sua Própria forma de se fazer presente. O que a narrativa nos traz é a certeza que Ele sempre vem. Ainda que a conversa seja margeada por tristezas e incertezas; ainda que haja falta de fé; ainda que nossos pensamentos sejam imperantes, a Verdade é que Ele sempre vem! E em Sua Divina Simplicidade não faz questão de ser reconhecido, faz questão sim de estar conosco nos lembrando que as Promessas de Deus estão além das circunstâncias. E no momento mais inusitado, menos esperado, simples como uma pomba, Ele se revela!

Assim foi no Caminho de Emaús, assim é no caminhar de nossas vidas. Assim como àqueles homens, você não está sozinho em seus pensamentos e conversas, independente do assunto, num momento qualquer Ele vem, chega e espera o convite para entrar em sua casa. Que tal hoje?