... a vida ...

... a vida ...

Hoje percebi o quanto somos frágeis, o quanto somos velas acesas, que a qualquer momento podemos apagar. O sopro é mais forte.

Se ainda sentia mágoas pelo que meu pai fez a minha mãe, aos filhos, pela vontade da carne, pelas aventuras e por tudo mais que ele fez..., toda mágoa se transformou em um grande amor e uma grande tristeza.

Não é fácil ver aquele homem que outrora era tão desejado pelas mulheres, tão corajoso, viril, forte, belo, um galante hollywoodiano, hoje ser tão dependente dos outros... e com tanto medo.

Medo de andar, de banho, de comer... e de ficar só.

Senti saudades daquele homem de voz altiva, que a opinião dos filhos e da mulher não valia de nada, pois ele era o provedor da família. Inacreditável, senti saudades daquele homem que se eu discordasse dele, já tinha para mim a sola pendurada no armador. A tira de couro, com três dedos de largura e comprida... quando olhava para aquele local onde ela ficava imperando e só quem tocava nela era o seu imperador, sentia calafrios, tinha tanto medo. Mas, como ele dizia: “essa vaca braba é difícil de domar”, não fui domada, mas tinha por ele respeito.

E hoje, ao vê-lo tão frágil, com medo de tudo e de todos, só sentindo segurança nas filhas, senti-me arrasada. Minhas forças exauriram-se, entreguei-me a tristeza, chorei...

Olho para uma cama e vejo minha mãe com fraldas, tratada como bebê, olho para o outro lado, vejo em outra cama, outro bebê: fraldas e papinhas.

Senhor, dai-me forças para aceitar essas mudanças.

É a vida, mas eles continuam meus heróis.

Gildênia Moura

04.02.2011