MULHER: O UNIVERSO ÚNICO

A amizade antiga com a colega escriba me recomenda um poema recentemente publicado no site do Recanto das Letras (classificado como erótico) e pede a análise. Faço a leitura e a palavra sai fácil, prazerosa:

“VESTIDOS

Suzana Heemann

Ai, que roupa vou botar

para com ele encontrar e impressionar?

O vestido vermelho decotado

ou o amarelo com saia de babados?

Mas o vermelho está manchado

e o amarelo desbotado...

Quando o espelho reflete nosso passado,

iluminando a beleza no retrato

de uma entrega,

nua...

Publicado no Recanto das letras em 23/01/2011.

Código do texto: T2746624.”

Suzana, querida confreira e amiga! Eis um texto de singeleza ímpar que muito bem retrata a natureza feminina, sua inquietação à entrega: estar bonita pra bem receber o amado... E mulher é um universo único que a tudo lembra, como se fora ontem... Cérebro de elefante: inapagável memória sobre fatos e situações vividas. Pena que as sequelas do dia-a-dia deixem tatuagens nela como frente a um espelho... E em nós marcas tão profundas, visíveis aos olhos dos visitantes... Porque neste espécime o afeto e a entrega no amar e seus fetiches tem sempre a aparência do “nu” a que nos resumimos e no penhor do ato e seus prazeres. O homem – parece-me – lida com os escaninhos da memória e a reverberação do prazer do dito e feito. A mulher com a possessão do instante e a construção do futuro como se – permanentemente – trajasse um personalizado vestido de noiva, imolada ao cotidiano. Repete-se no ser feminino a historinha dos contos de fada a cada vez que se oferece como dádiva. Há uma incessante busca do objeto amoroso... Tão difícil como o passar do tempo (que se pode notar nas fotos) é a ausência daquele a quem ela se fez entrega e oferenda... Assim como na Poesia, na mulher está o fetiche, porque ela também é feminina e tem os seus (inimagináveis) dengos e agrados. Parabéns pelo conteúdo e forma do poema. E eu – pobre de mim – gasto e desbotado, à espera da próxima esquina, vivendo criador e criatura... E onde está o erótico no poema, se não na cabeça do ser pudico que se pune à simples rememoração do prazer e o nu ao espelho?

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/11.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/2761511