Saco de Estopa Vazio
E vou rolando pelo dia como um saco de estopa vazio... dentro, só o oco do oco do oco... Fui esvaziada de mim. Fugi para algum lugar prá fora do meu caos interior e não sei onde me achar. nem mesmo sei onde procurar... Esse sentimento de esvaziamento, de perda de si, de fuga do eu... Será que a morte é assim? Ou a proximidade dela? Tenho certeza que se não estivesse presa entre as quatro paredes o vento me levaria, me levaria... Como se eu fosse uma pluma... um sacola de lixo que se perdeu da caçamba e agora rola pela rua... já tendo perdido parte de seu conteúdo, cheia de furos, cheia de rasgões, cheia de pedaços de tiras de plásticos pendurados. Bem que eu podia ser biodegradável. Assim, pelo menos não causaria mais danos onde cairia depois do vento me rolar pelo mundo... Por que será eu estou assim? Ontem... ontem, depois de tudo, um cansaço enorme me pegou... Mas eu ainda assim, por teimosia, por desejo de falar, de animar, de dar alegria, vim aqui... e despejei meu coração somente para ti... escrevi com gana. com vontade... fui dizendo, fui buscando palavras que nem sei como achei dentro de mim depois de tudo o que passei no dia... Mas me parece que quando as emoções são muito fortes, sejam de dor, de alegria, de amor... Então, eu não sei como, me parece que as palavras brigam para fazer um lugar numa frase. E dentro de mim crescem canais, assim como aquelas vias congestionadas de trânsito... todos querendo só ir... ninguém querendo voltar... e se trancam, se prendem, se batem, se brigam, se matam... E são felizes ou infelizes, não sei... as que conseguem acabar com alguma outra e ocupar o seu lugar num texto... sair do congestionamento infernal... Quem sabe elas acham que assim conquistam a liberdade... - Ufa! Enfim livres! devem pensar. Ledo engano! assim que escapam do inferno interior se tornam prisioneiras do meu enlouquecido falar. São aprisionadas nos textos... viram meras letras, amarradas uma às outras, para formar palavras... que cada dia... vejo... as pessoas nem procuram mais ler... É que só contam do vazio. só sabem falar que fugiram de mim... e deixaram um buraco, um oco, um vazio... Deixam um profundo e escuro abismo interior... que esconde no breu... dois olhos... que espiam o mundo... a vida... e choram... porque nunca... nunca mais... tiveram coragem de ultrapassar esse vazio... de pular o buraco, e de lutar... para ver brilhar os seus sonhos... Estou assim: vazia de mim...