EM MEMÓRIA DOS NOSSOS 22 ANOS, HOJE COMPLETADOS

Talvez estejas mesmo dizendo a verdade quando reafirmas, há 22 anos, desde quando nos conhecemos nesta vida, que eu morri, que eu estou morta desde sempre dentro de ti; eu, uma natimorta, um ser abortado desde antes de abrir os olhos para a vida, a vida que poderia ter sido quando nos re-conhecemos há 22 anos, a vida que não pôde re-começar porque desde o primeiro momento marcada, a fórceps, a ferro, a fogo, pelos nossos ambos fatídicos e incompreensíveis Destinos.

Ainda assim, a presente natimorta, este presente aborto do teu sonho, mantém e vem, neste momento, reiterar aqui, a sua mesma de sempre fidelidade ao seu, dela, sonho, ao seu, dela, sonho de amor desde o sempre perdido.

A esta, que não teve jamais o direito de reivindicar para si própria a verdade plena e anunciada do teu amor, da tua compreensão, do teu perdão, só resta estar até o seu, dela, derradeiro dia sobre a face desta Terra, sempre aos Pés do Pai Maior a pedir pela tua Paz, pela tua Vida, pela tua Ressurreição.

Esta, aqui presente, já nada espera para si mesma, já nada espera para além da própria fidelidade, nada para além da presença, no próprio coração, do seu próprio, dolorosíssimo e sem esperança de qualquer espécie de reciprocidade, amor.

Na manhã de 13 de janeiro de 2011.