Ela (IV)
Ao seu redor tudo era maravilhoso: flores penduradas dos telhados, alamandas amarelas, lianas, rosas... musgos em grande quantidade... algumas flores exóticas como pequenas orquídeas enroscadas nos velhos troncos das árvores... Os pássaros podiam ser ouvidos mais facilmente do que vistos; a escuridão ainda pairava sobre o vale como um manto azulado e morno; andorinhas roçando o ar em relâmpagos sobre os seixos do rio de águas transparentes. Um pássaro cantou em algum lugar no meio das folhagens. Os sons começavam a sobrepujar o gorgulhar das águas do rio. Borboletas camufladas em cores escuras dançavam ao redor de uma planta de pequeninas flores amarelas. A vida brilhava suas cores ao redor... Ela, sentindo-se a menor de todas as almas, abraçou os joelhos junto ao corpo, apoiando neles o queixo. Pensativa sua alma falava e ela ouvia os sons ininteligíveis. Sem poder compreendê-los se fizeram em lágrimas que desceram quentes, uma à uma, formando um rio que desaguava em seu colo... Até quando? Até quando suportaria viver com o turbilhão de sentimentos presos dentro do peito? Até quando conseguiria segurar a mola do falar para que não jogasse ao vento tudo o que turbilhava em sua alma? Até quando conseguiria manter-se presa ao casulo? Amarrada à concha? Calada pelo silêncio que lhe doía a alma e quebrava o espírito sempre forte e guerreiro? Até... Até quando ?