O SORVETE DA INFÂNCIA

Nunca escrevo o texto literário pra mim, mesmo que, aparentemente, se apresente pessoalizado ou com profunda participação do personagem-chave: o EU. O que me importa é que o leitor receba bem o produto final da emoção e intelecção. A sua fruição é que me apraz, me deixa feliz. Não nasci para o simples e ingênuo memorialismo. Os outros não têm nada a ver com os meus anseios pessoais, querelas, virtudes, defeitos e amores não correspondidos. O alter ego sabe disso e modela a lavratura. Bem, o julgar estético não me cabe... Porém, por mais que isso esteja presente na cuca, surpreendo-me sorvendo o doce das palavras feito o fascínio do sorvete da infância... E já faz tanto tempo o das primeiras descobertas...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

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