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Oi, Joice: é difícil dizer dos limites entre a ignorância e a inocência, já que uma leva a outra, sendo talvez uma a outra. Sobre a ignorância, a despeito da necessidade de ser superada, fomos dotados de um bom percentual insuperável dela. Porque, ao que parece, devemos continuar ignorantes acerca de certas coisas. A ignorância nos protege da possibilidade dos excessos do saber, daquilo que, segundo nos conta a História, tem levado muitos a loucura, sendo talvez uma espécie de loucura o que vive na cabeça das crianças em sua inocência. O que definirá a condenação ou o perdão dos perversos será avaliar se suas atitudes são expressões da crueldade - produto de certo percentual de inteligência subordinada aos impulsos de baixos instintos - ou se a crueldade não passa de outra expressão da ignorância. Espero que tenha conseguido me fazer entender. Beijos.
Caro Carlos: às vezes é mesmo difícil atender ao pedido de alguns para que, ao dizer qualquer coisa, sejamos sinceros. Sou "vítima" de circunstâncias nas quais, depois de soltar o verbo, fui proibido de abrir a boca. Tenho textos considerados impublicáveis, embora aqui e ali tenha feito bons exercícios de sinceridade, o que naturalmente não me rende mais que alguns aplausos. O importante, contudo, é o que você sugere: nada de imobilismos intelectuais. Kafka dizia que um livro só deve ser considerado importante se contribuir para abrir a cabeça do leitor como um machado, o que talvez alguns dos livros dele tenham conseguido fazer. Quanto a piadas, todos nós gostamos delas, mas você irá concordar que contribuem para a disseminação de muitos preconceitos. Como nos sugere um médico chinês, para que vivamos mais e melhor será preciso comer a metade, correr o dobro e sorrir o triplo - embora não a custa dos sofrimentos alheios. Grande abraço.
Caro Bruno: na Verdade, as voltas que o mundo dá são reflexos das rodas que movem a Vida. Porque o Universo inteiro dá muitas voltas e nossas vidas com ele a renascer aqui e ali, talvez para sempre. Hoje entendi melhor o significado do perdão dos cristãos e, ao mesmo tempo, a teoria de Nietzsche, "o anticristo", sobre a lei do eterno retorno, embora outros teóricos compreendam que tal não se processa em círculos, mas em espirais. O que prova isto, além das trajetórias de nossas vidas, são os designs das galáxias e das conchas dos caracóis. Abraços.
Amigo Ivaldo: obrigado por apreciar meus trabalhos. Na verdade, não ando a crer assim tão fácil. Lembro que minha mãe e eu, quando em encontros bíblicos, discutíamos sobre as diferenças de valor entre o crer e o compreender. A despeito do que disseram filósofos sobre os limites da Razão, sei quanto compreender é importante ao melhor fundamento de nossas crenças. Por pensar ter já compreendido umas tantas coisas, então, ando a procurar colaborar com a fundação de novas vidas sobre este mundo – apesar de todos os avisos sobre seu "fim iminente" e sobre "a inutilidade da procura da perpetuação da vida", sempre tão efêmera quanto eterna. Apesar de não estar(mos) mais daqui a pouco sobre este mundo, penso que, como demonstra ininterruptamente o Universo, viver é inevitável e que, como demonstra nossa inquietação motora, a imobilidade absoluta é impossível fora das dimensões daquilo que chamamos “Espírito”. Paz, saúde e prosperidade. Grande abraço.
Oi, Augusta: A dificuldade em se lutar pela conquista da igualdade (racial, de gênero ou qualquer outra) se estabelece porque, de fato, não existe igualdade entre homens e mulheres, ou entre a cultura dos negros e dos brancos - a não ser aquela "igualdade" que nos torna tão dependentes da Vida quanto as bestas, os insetos, as plantas e tudo o que vive. Para conquistarmos o afeto entre as pessoas, e nossa condição definitiva como seres humanos, restará desenvolver argumentos que possam justificar a necessidade de nosso respeito a diferenças.
Dulceny: na Bíblia, Jesus adverte ao seu pretendente discípulo, que queria se reunir com ele apenas depois de enterrar seu pai, que deixe "os mortos" enterrarem seus próprios mortos. Dessa forma, penso que, para Jesus, é somente quando na percepção da potência eterna da Vida, onde estamos metidos – de que (ou de quem) somos também expressões – que nos tornamos realmente vivos. Os que não tem ciência disto, mesmo quando biologicamente vivos, estão espiritualmente "mortos" e vivem como hipnotizados zumbis. Com a morte, contudo, depois de aniquilada toda consciência, ninguém poderá sentir e saber que já não mais existe, sendo de fato somente a Vida o que poderemos usufruir e, nela, seus males (ou nossas dores) e seus bens (ou nossos prazeres).
David: penso que não inventamos certas "coisas" por acaso. Em nossas antigas interpretações do mundo, nos vimos como partes dessa fantástica sinfonia cósmica regida pela Vida, seus movimentos e ritmos, e aí não me incomoda mais reconhecer que sou apenas uma nota em todo esse conjunto harmônico. Não sou um Sol, provavelmente, mas certamente um Mi que não mais se pensa outros tons. Mas, já que perguntou, lhe digo que o signo usado para nos representar - assim como todos - diz mesmo muito de nossas tendências individuais. Entre as infinitas possibilidades de ter nascido sob outro signo, fico feliz de ter vindo entre os regidos pelo signo de Gêmeos, apesar do sofrimento também decorrente do prazer advindo de nossos múltiplos interesses.
Luiza: aproveitando esta tendência iconoclasta dos pequenos e grandes heróis de nossa infância, há alguns anos escrevi um livro chamado A ÚLTIMA HISTÓRIA DE BATMAN, onde narrei "as últimas" aventuras do super herói, então decadente, odiado, só, alcoólatra. Apesar de nossas tentativas de tornar tais ídolos mais "humanos" e, portanto, menos infalíveis, há a necessidade de mantê-los vivos e fortes para sempre. O filme BATMAN BEGINS foi a resposta que os inventores do personagem nos deram sobre resistências a mortalidade dos mitos - embora de fato nada (em particular) seja para sempre. Beijos.