A AREIA MOVEDIÇA

Tu já deves saber: o que me comanda são os neurônios. Procuro ser sempre a antítese. Sou filosoficamente hegeliano, funcionando como provocador... Insisto que é necessário sair do lugar comum da vida. Minha função no mundo – aos sessenta e quatro anos – é fazer o interlocutor pensar. Não me contento que ele seja meramente um contemplativo e/ou expositor. Nunca pretendo despertar a ira no mistério do outro. Porém, o receptor é sempre uma incógnita... O poeta é um ser muito incisivo, por isso mesmo se sente capaz para tentar mudar o mundo a partir de suas propostas. Recriá-lo através de personagens interlocutoras de nosso alter ego, o qual difere do lugar comum de perguntas e respostas pré-concebidas. Recriando-se, o condenado à escrita faz a sua novena amorosa: um cristo maluco capaz do novo, da redenção, da morte e da vida nova... O que não sabemos, quando emitimos a seta, é qual a área proibida, a areia movediça... E se haverá poder de fogo na seta de retorno. Assim o mundo se perfaz...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

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