Ah... essa política!

Wilson Correia

Brecht disse que o analfabeto político é burro.

Ele teve todas as licenças para dizê-lo.

Licença que não tenho é a de me valer da burrice política que não admite a realidade.

E a realidade é que o Brasil hodierno é composto de classes, segmentos e grupos políticos que se dividem entre os desvalidos e as elites.

Os últimos oito anos de governo em nível federal representam o exercício do poder voltado para as classes, segmentos e grupos políticos historicamente considerados subalternos, assujeitados, em menoridade – o dos desvalidos.

As classes, segmentos e grupos políticos alimentados “pelas” e “nas” hostes das elites brasileiras, historicamente parasitas do trabalho da nação, sempre se considerando acima da carne seca, não engolem os últimos oito anos de governo em nível federal.

Como pode um desvalido, pobre, não totalmente escolarizado e oriundo dos excluídos vir fazer mais pela nação brasileira do que doutores não deram conta de realizar?

Perplexidade!

Os pobres, em grande parte, passaram a ter identidade, nome, respeito e a participar da produção e apropriação dos bens antes reservados às elites.

Isso, segundo nossa história, é um sacrilégio!

Santa é a exclusão, a ignorância, a menoridade e a miserabilidade a que a elite brasileira, por longos quinhentos anos, confinaram a maior parte de nossos irmãos desvalidos Brasil afora.

Como a tradicional elite brasileira, letrada e iluminada, pode aceitar tamanho feito que contraria esse norteamento?

Não podem aceitar pelo fato de que isso, a aceitação do sucesso do governo de um pobre, fere o orgulho dos elitistas ricos e ataca sua soberba histórica.

Isso é triste.

Muito triste!

Só não é mais triste que o fato de o pobre desvalido, ostensivamente beneficiado “pelos” e “ao longo dos” últimos oito anos de governo do desvalido, agora tomar o lugar da tradicional elite, negar a si mesmo a própria condição de desvalido e desejar que o mais conservador dos conservadores governe.

Tiro no pé!

Falta de amor-próprio.

Ignorância má porque é o mais mesquinho não saber de si.

Como é absurdo o desvalido votar em quem sempre o excluiu, o assujeitou e o aniquilou em nome da personalíssima opulência e bem-estar egóico e diabólico!

Essa alienação é a burrice política com a qual jamais poderei concordar!

Quando essa inépcia me chega por e-mail ou na viva voz de quem me dirige a palavra, recebo-a sentindo-me aquele que é atravessado por uma bala de fuzil.

E, aí, morro!

Politicamente falando, como continuar a viver?