O espelho de Alice - Cap 1 - Monstros no armário
Qual a criança que nunca teve medo do escuro. ou medo que bichos viessem machucá-la quando a luz se apagasse e seus pais fossem dormir no quarto ao lado. Pois bem, nossa pequena Alice, nunca teve medo de escuro. E quando, aos 4 anos, começou a chorar quando as luzes eram apagadas, ela já sabia que não adiantava chamar pelos pais. Pois eles nunca viriam salvá-la.
Seus pais haviam ido viajar, e onde estavam não tinha como se comunicarem com a filha. Eles foram visitar as estrelas disse tia Carla. Mas, se eles foram ver as estrelas, porque estão todos chorando tia?
Essa pergunta nunca recebeu resposta.
Passaram alguns dias e levaram a pequena para a casa de tia Carla, uma mulher que vivia com um lenço na cabeça, e ela era diferente, ela era careca. Mas, era também muito meiga, embora sempre chorasse escondida. Seu marido era um homem muito bonito, e sempre se oferecia para brincar com Alice. Mas, ela percebia que seu olhar não era igual ao de sua tia. Ele a olhava de uma forma diferente. Perto de sua esposa, ele a tratava como uma filha, com um amor sem igual, mas, longe dela, ele brincava diferente.
O ano passou rápido, e o ano seguinte também. Finalmente Alice estava indo á escola. Ela sempre ficava curiosa quando via seus primos chegarem em casa com os materiais, liçoes de casa, mochilas. Sim, ela sempre quis ter uma mochila para levar á escola.
Em um diário que achei depois de muitos anos, Alice descreve muito bem como foi aquele dia. Irei postar abaixo, as palavras escritas pela própria menina.
O primeiro dia de aula foi delicioso. Mas, senti falta de tia Carla. Ela estava no hospital. Já fazia meses que estava doente, mas, dessa vez ela caiu deitada no chão e não respondia quando eu chamava. Chamei pelo tio Afonso e quando ele chegou levaram-na ao hospital.
Mas, na escola, eu sou a mais nova. Como meu tio paga, deixaram eu entrar um ano antes. Pois, aos 6 anos, já sei escrever. Dizem que sou uma pequena... esqueci o nome. é... Gênia! É isso.
A aula foi boa, começaram a ensinar um pouco sobre leitura. Eu já sei lei, disse, mas, a professora falou que eu precisava aprender junto com os outros. Então abri minha mochila, a que ganhei da minha tia, e estou escrevendo sobre meu dia.
Minha prima me disse que diários são cadernos em que escrevemos o que vivemos. E acho que isso é um diário. Ou uma página de um.
Xi, a professora me viu.
Durante dias ela não escreveu mais, pois sua tia havia falecido na tarde daquele dia e sua vida nunca mais foi tão calma quanto era antes. Seus primos permaneceram na casa por mais algum tempo, mas, como eram adultos, e não gostavam de seu pai, cada um seguiu um rumo. E antes de completar 7 anos, Alice estava morando apenas com seu Tio.
E ele começou a ter aquele comportamento estranho de quando ela foi morar lá. E ela já não conseguia lembrar de seus pais direito. Eles eram lembranças pequenas. Ela passava o dia inteiro na escola, e quando chegava, seu tio a chamava para brincar. E as brincadeiras agora, começavam a incomodar.
Ela não sabia ao certo que queria brincar com ele. Teve um dia que uma das brincadeiras a fez chorar. Ela não entendia, mas ele a tinha feito sangrar.
Alice estava em seu quarto, assistindo tv, e ele chegou em casa gritando muito e ela ouvia barulho de coisas sendo quebradas.
Ela pegou sua mochila, que tanto gostava, e se escondeu dentro do armário. Mas, ele foi mais esperto que ela. Chegou dizendo que gostaria de brincar com ela. Mas, ela, assustada, disse que estava brincando de esconder.
Foi aí que ele disse que ela escondia algo dele, e que ele queria ver o que ela escondia. A voz dele foi ficando mais leve, mais suave, e Alice foi perdendo o medo, e confiando, afinal, ela o tinha como um segundo pai, já que o seu havia falecido.
Ele pediu que ela deita-se na cama, e ele disse que ela precisava tirar o vestido, pois o que ela guardava estava dentro dele. Embaixo de seu umbigo.
Ouviu-se um longo grito pela vizinhança. E alice nunca mais foi a mesma.