Ciscos
Ciscos me tolhem as lágrimas dos olhos no tempo que nunca fui. Abrigo-me nas perguntas que não calam e fazem a vez de nós dois. Águas que escorrem das pedras e caminhos que sobem aos céus. Olhos que expectram angústias no alvorecer que já partiu. Não sei se sou parte de mim ou do anjo que mora em meu interior. Ele se cala e sofre dores que me cravam cruzes na alma, já falida de tanto esperar o que não virá. Já não sei onde vou. O tempo não pára e não credita saldos em meu calendário. Minha bússola de mão me conta que o milagre de viver está em só aceitar ser gente. Mas se gente nem sou? Tenho lá minhas dúvidas de que seja uma flor ou uma pedra que o tempo jogou na terra para procurar um lugar. Sinto-me mais como pedra a obstruir o caminho de luz do sol que por minha causa deixou de brilhar. Pedra fui. Pedra sou. E para matar e morrer, caí em mim mesma. Refiz-me de vestes invernais e caminhei para a janela do tempo onde mora o poeta. Choro agora lágrimas por um tempo que nunca foi. Caminho em seus desejos. São os mesmos meus. Todos não mais realizáveis. E me bruta a dor da poesia que não cala e das palavras que nunca encontro fora do coração. Nada mais vejo. Olhos na escuridão. E no fundo, do fundo de tudo: Espíritos que se brotam, entrelaçam e ousam
continuar a ser. Almas irmãs. Acalentam sua dor e seu amor nas vagas de um tempo que vem e vai.