Despedida
Passos seguem lentamente o caminho até a beira do rio que cruza próximo ao jardim que por vezes é regado pelas águas que dele provém, trazidas pelo jardineiro em seu cântaro de ouro...
Os olhos contemplam suas águas que deslizam mansamente por entre as pedras do caminho, sussurrando canções tão lindas como o som de uma harpa heólica.
A mente pensa nos caminhos, nas vilas, nas histórias que já viveram das águas desse rio.
Reflete sobre as montanhas por onde passou e o lugar de sua nascente.
Pensa que nada sabe desses caminhos, onde caminharam, de onde enfim vieram e o que de fato o são.
O olhar se debruça para os raios de sol que se banham nas águas límpidas e misturam-se nelas, tornando-se assim, parte delas, num imenso e rubro tapete de cores apeluciadas que confunde, turva o olhar sóbrio que os possa ver distintamente.
Recorda as melodias sussurradas pelos elementos da natureza, que tantas vezes foram ditas.
E chegam as lembranças dos percalços sofridos...
O coração sobressaltado observa o horizonte, que recebe o poente do sol, que traz a escuridão dos dias e vê a direção do oceano para onde as águas do rio seguem...
E em todas as direções, nada se pode ver para além do silêncio que tanto pode anteceder uma tempestade, como pode trazer o descanso eterno para a alma já sofrida e cansada das lutas da vida.
Lágrimas inundam a face por não saber o que fazer, o que dizer, ou falar... E nada há que possa ser dito, nada mais do que já foi.
Não existem caminhos quando não os queremos encontrar.
O espírito em pranto se afasta e procura outra estrada, sabendo que nenhuma existe para longe dos raios dessa Luz que precisa para viver.
Mas... vai para longe, para o silêncio interior, para o sepulcro do coração, lá, bem lá, onde aninhada em si, a alma ainda está...
Nas alturas dos montes, as flores nascem e vivem para sempre nas pedras das quais fazem parte.