Outro lugar
Depois da fogueira de São João e da alegria de pilequinhos nem tão freqüentes vem o mergulho em um outro lugar.
Outro lugar.
Vínhamos eu e todas as minhas consciências ou inconsciências carências ou pouca afetividade em uma velocidade tão grande que me levava para a terra de ninguém e o freio de mão foi puxado pela mão do tempo, da necessidade, da exata hora e me parou aqui, estou aqui parada! Derrapei, capotei...
Por algum motivo não sei...
Uma cicatriz enorme brotou na alma que esconde outras lá dentro do corpo, ocupando o espaço físico de onde antes ficava toda alegria de viver e morrer. Viver de que? Morrer por quê? Tantas interrogações. Tantos sentimentos.
Fico tentando imaginar meu corpo por dentro. O estudo colegial importantíssimo me ensinou cada órgão em seu devido lugar. Nossos órgãos são como sacolas, uma espécie de depósito para todas as coisas, e onde também jogo meus pensamentos, sentimentos, reações emocionais. São lugares onde escondemos a vida que não queremos e a que estamos acostumados a querer, onde posso me retirar e me esconder em minha própria caverna. E o tempo não avisa e puxa o freio.
Me deixa sem movimentos e encarando esse vazio, respirando na dor física esse novo momento que chega e vendo um jeito de manter a energia de proteção desse meu lugar.
Aqui, nesse lugar, parada, cada folha tem formas, cores e detalhes próprios. É quase um jardim florido. Sem teto a céu aberto azul, a chuva, sinto o frio, escuto todos os sons. Sinto a vida.
Penso em tudo que está correndo lá fora, às vezes com preocupação, por tanto que tenho por fazer, que deveria estar fazendo... E vejo que num mesmo momento, numa mesma vida, existem dimensões tão diferentes.
Com o freio de mão puxado espero as pessoas, espero o amanhecer, espero as viagens, espero quem foi voltar e espero um dia ir quem sabe?! Espero um amor ou melhor um grande amor.
Meio tonta pelo passeio interno encontro um lugar que visito diariamente, lugar que não sei onde fica que não tem forma, que é imenso porque ocupa meus segundos minutos e horas. Um lugar que não tem nome e não se define. Faz-me insana, má e extremamente triste e feliz.
Mas eu sei que é exatamente nesse lugar que fica o freio de mão e a mão do tempo, e é onde também eu posso manipulá-lo.
Ufa! Guardo as cores as dores, guardo os sorrisos os temores. Amores e desamores. Cego futuro que acelera minha mente e me obriga a guardar nos órgãos todas as coisas de que preciso e que não preciso.
É meio confuso, mas, é esse o meu lugar. Com freio de mão puxado.
É.
E tudo tão lindo aqui... Ainda posso ouvir Kitaro.
Rio, 09/08/2010 22hs