Linhas em Branco

Não sei mais como ser, como falar, o que falar, onde. Compartilhei minha vida, meu coração, meus sentimentos. Agora percebo, tarde, que mais uma vez só amontoei entulhos de espinhos na alma que me ouvia. Comunguei minha vida toda, esfarelei meu interior... gritei cada pedaço de mim e espalhei-os em palavras, em cada texto que escrevia, em cada linha de uma poesia que escorria de minha alma por entre meus dedos para o papel em branco. Deixei fugir de mim, a tristeza, o medo, a revolta, as vivências, os momentos e todos os sentimentos feios e também os lindos que moravam e moram dentro de mim... Nas ondas do tempo que passou, após tanto silêncio, vejo e ouço o quanto feri, magoei e que na verdade, tudo o que falei sufocou um coração sensível que me ama e é meu amigo. Não há perdão para tamanha insensibilidade. Nem penitência para além do silêncio e do calar da alma, que agora curvada sob o peso das palavras, queda-se morta ao chão do calvário. Não, não sei mais como ser. Não sei mais como ser com quem amo, com quem vivo, com quem compartilho minha vida, minhas coisas e todo meu mundo. Não, não sei mais ser.

e ainda preciso aprender a viver. Preciso aprender a somente calar. Calar minha alma e deixá-la fenecer na masmorra do silêncio,

até que a eternidade venha e brilhe a luz outra vez em minha vida.

Maria
Enviado por Maria em 02/08/2010
Reeditado em 01/05/2014
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