UM MUNDO MAIS CEGO SEM SARAMAGO
Ontem o mundo se viu às voltas com a notícia do falecimento do consagrado literato português JOSÉ SARAMAGO, um grande escritor que tanto enalteceu a nossa bela língua.
Saramago foi um escritor contemporâneo que, a exemplo de muitos dos seus compatriotas literatos e romancistas de outras eras, muitas críticas fez à sociedade e à Igreja da época, as deixando muito bem caracterizadas nos seus textos, fato que lhe gerou sérios problemas no entorno político e religioso em que vivia, chegando por isso à absurda necessidade de se ausentar de sua terra natal.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA e EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, foram seus livros mais lidos , difundidos e comentados, o primeiro a destacar a CRUEL e HIPÓCRITA essência da natureza social humana, e o segundo aonde o escritor ousa pensar a figura de Cristo como HOMEM e não como divindade, o que gerou grandes polêmicas, a ponto do referido romance ter sido vetado numa lista de tantos outros que concorriam a um prêmio literário europeu, veto este realizado pelo Subsecretário de Estado adjunto da Cultura de Portugal, posto que foi considerado um escrito blasfemo.
Parafraseando o título mais conhecido de Saramago, penso que toda vez que perdemos um pensador e escritor do porte dele, o mundo decerto fica mais cego e menos rico.
Ninguém melhor que um exímio articulador do pensamento, para através da instrumentalização das suas letras, lançar ao seu entorno a sua VISÃO DE MUNDO, a clarear a acuidade das nossas tão embaçadas lentes.
É assim que penso que se constrói um mundo menos cego, candidato a algo melhor.
O episódio da morte de Saramago, a mim, sela com chave d'ouro toda a assertiva crítica SOCIAL, POLÍTICA E RELIGIOSA que o grande escritor traçou na sua obra: Vejam, os mesmos protagonistas do "meio" que um dia o crucificaram pelos seus artísticos textos, alguns segundos após a sua holística "partida" já fizeram questão de lançar suas cinzas no entorno dos seus próprios holofotes, Homens desse mesmo cosmos que sempre julgam comandar, a esse nosso eterno palco de cegueira mundana e vaidosa, aonde a "bel prazer" de alguns se manipula a tudo e a quase todos. Impressionante!
O escritor tinha toda razão, nossa essência decerto que não é das melhores...
Deixo aqui registrada minha sincera emoção com o mutismo das tantas prodigiosas letras que ainda seriam escritas por Saramago, a enaltecer o tudo que nos foi escrito com tanta maestria, veracidade, visão, coragem e sensibilidade artística.
Homens singulares é que enriquecem a pluralidade da história das artes e fazem a diferença entre os tantos..."monotonamente" tão iguais.