ATRITOS
Roberto Crema
 
Ninguém  muda ninguém;
ninguém  muda sozinho;
nós  mudamos nos encontros. 
Simples,  mas profundo, preciso.
É nos relacionamentos que nos transformamos.
Somos  transformados a partir  dos encontros,
desde  que estejamos abertos  e livres
para  sermos impactados
pela  idéia e sentimento  do outro.
Você  já viu a diferença  que há entre as  pedras
que  estão na nascente de  um rio,
e  as pedras que estão  em sua foz? 
As  pedras na nascente são  toscas,
pontiagudas,  cheias de arestas.
À medida que elas vão sendo carregadas
pelo  rio, sofrendo a ação  da água
e  se atritando com as  outras pedras,
ao  longo de muitos anos,
elas  vão sendo polidas,  desbastadas.
Assim  também agem nossos  contatos humanos.
Sem  eles, a vida seria  monótona, árida. 
A  observação mais importante  é constatar
que  não existem sentimentos,  bons ou ruins,
sem  a existência do outro,  sem o seu contato. 
Passar  pela vida sem se  permitir
um  relacionamento próximo com  o outro,
é não crescer, não evoluir, não se transformar.
É começar e terminar a existência
com  uma forma tosca, pontiaguda,  amorfa. 
Quando  olho para trás, vejo  que hoje carrego em  meu ser
várias  marcas de pessoas extremamente  importantes.
Pessoas  que, no contato com  elas,
me  permitiram ir dando  forma ao que sou,
eliminando  arestas, transformando-me  em alguém melhor,
mais  suave, mais harmônico,  mais integrado.
Outras,  sem dúvida,                                                                            com suas ações  e palavras me criaram  novas arestas, que precisaram  ser desbastadas. 
Faz  parte...
Reveses  momentâneos servem para  o crescimento.
A  isso chamamos experiência. 
Penso  que existe algo mais  profundo,
ainda  nessa análise.
Começamos  a jornada da vida  como grandes pedras,  cheias de excessos.
Os  seres de grande valor,
percebem  que ao final da  vida,
foram  perdendo todos os excessos
que  formavam suas arestas,
se  aproximando cada vez  mais de sua essência,
e  ficando cada vez menores,  menores, menores...
Quando  finalmente aceitamos
que  somos pequenos, ínfimos,
dada  a compreensão da existência
e  importância do outro,
e  principalmente da grandeza  de DEUS,
é que finalmente nos tornamos grandes em valor.
Já  viu o tamanho do  diamante polido, lapidado?
Sabemos  quanto se tira
de  excesso para chegar  ao seu âmago.
É lá que está o verdadeiro valor... 
Pois,  DEUS fez a cada  um de nós com  um âmago bem forte
e  muito parecido com o  diamante bruto,
constituído  de muitos elementos,
mas  essencialmente de AMOR.
DEUS  deu a cada um de  nós essa capacidade,
a  de AMAR...
Mas  temos que aprender como.
Para  chegarmos a esse âmago,
temos  que nos permitir,
através  dos relacionamentos,
ir  desbastando todos os  excessos
que  nos impedem de usá-lo,
de  fazê-lo brilhar.
Por  muito tempo em minha  vida acreditei
que  amar significava evitar  sentimentos ruins. 
Não  entendia que ferir e  ser ferido,
ter  e provocar raiva,
ignorar  e ser ignorado
faz  parte da construção  do aprendizado do amor.
Não  compreendia que se aprende  a amar
sentindo  todos esses sentimentos  contraditórios e...
os  superando. 
Ora,  esses sentimentos simplesmente
não  ocorrem se não houver  envolvimento...
E  envolvimento gera atrito.
Minha  palavra final: ATRITE-SE!
Não  existe outra forma de  descobrir o AMOR.
E  sem ele a VIDA  não tem significado. 
 
(Roberto  Crema)
    – Presidente do Colégio Internacional dos Terapeutas – UNIPAZ. –