AOS RECANTISTAS AMIGOS
Queridos amigos, a saudade de vós é tanta que anseio o momento de trocar convosco novamente palavras rotineiras. Não sei se é típico das mulheres, mas durante o tempo em que me hospedei por aqui, o que não tem nem um ano, eu ainda alimentava ilusões descabidas, quer dizer, elas se alimentavam de mim. Por inúmeras vezes, acabava por mentir a mim mesma que tudo transcorria normalmente, quando meu interior era recheado de aflições idiopáticas. Até que, um dia, obriguei-me ao retiro do convívio social, incluindo o virtual, refugiando-me em minha casa. A leitura, a escrita e os meus adoráveis animais têm sido meu sustentáculo desde então. Agora, aos poucos, na tentativa de descaramujar-me, tenho esforçado em desfazer os nós que me atam a uma misantropia indolente, mas, confesso, tem sido difícil e se, por vezes, experimento sensações desagradáveis até mesmo no contato familiar, quiçá com desconhecidos. Esse intervalo, em que me mantive reservada, desorganizou minhas noções de vida em comunidade. Tenho sido intolerante e aflorou em mim um altruísmo que, juro, não tenho idéia de onde saiu. As poucas pessoas que vejo se mostram com um egoísmo nauseante, além da hipocrisia costumeira. Meus preciosos amigos, pergunto-vos: o que faço? Incontáveis são as vezes em que o chão recusa os meus pés. Não tenho um caminho por onde andar e ainda não me disponho de asas, a não ser as de minha imaginação, estas últimas são o que mantêm o pouco de sanidade que me resta.
>>KCOS<<