VOU PARTIR

É preciso partir, partir de vez, desistir de vez da procura de Sentidos e de sentidos. Ainda sonho, não posso negá-lo, com um Tempo nesta vida, ou em vida futura, em que possamos viver, eu e tu, o perdão mútuo e a mútua justiça, justiça e perdão que nos escapam há vinte infindáveis anos; perdão e justiça que nenhum de nós foi capaz de construir.

Não posso mais suportar tuas evasões, minhas evasões, nossas eternas e inúteis alusões, nossas fugas, nossos medos, nossas infindáveis covardias, nosso orgulho, nossa ausência tão absoluta de humildade.

Preciso partir agora, para salvar o pouco que me ficou de dignidade, para

que possa sonhar com um dia ainda do meu olho no meu olho diante do próprio espelho.Preciso partir agora, antes de ter pela frente males mais terríveis dos que tenho enfrentado ao longo destas duas décadas, como morrer apedrejada em praça pública,tal qual se fazia em tempos ancestrais.

Neste tempo de agora não há tempo algum para nós, como não houve em vinte anos. Vou partir, com o mais absoluto e pleno vazio que se possa humanamente carregar, um vazio quase inumano,por além de toda medida. Vou partir com a esperança trancada no fundo da caixa de Pandora. Vou partir partir partir:tudo o que me cabe fazer; tudo o que me resta fazer.

Zuleika dos Reis, na tarde de 2 de junho de 2010.